No mundo lá fora, cidades
só desaparecem em caso de tragédias naturais.
Tsunamis, terremotos,
furacões.
Aqui não.
Aqui cidades desaparecem
por culpa da incompetência e da ganância.
Absoluta incompetência do
Estado para fiscalizar e ganância sem precedentes da iniciativa privada, que
não investe na manutenção.
Aí cidades somem do mapa.
Gente morre às centenas.
Famílias perdem o pouco
que têm.
E está tudo certo.
Porque é gente barata.
Gente que o Estado nunca
investiu muito mesmo.
Cidades com
infraestrutura precária.
Gente pobre, genérica.
É chato, deixa a gente
triste, passa no Fantástico, mas né?
É lá no interior de
Minas, tudo bem.
Com o tempo gente aceita.
Aí o Brasil vira o país
da tragédia anunciada.
Brumadinho é tragédia
anunciada.
Quando Mariana foi
dizimada, apagada do mapa, um monte de especialistas avisaram que outras
barragens apresentavam os mesmos riscos.
Mas deixaram para lá.
Uma multa aqui, uma
reportagem ali e segue o enterro.
Incompetência e ganância
dão nisso.
Brumadinho esfrega na
nossa cara o problema que convivemos em aparente menor escala diariamente.
Ou o fato dos rios Tietê
e Pinheiros serem rios mortos, recebendo esgoto clandestino de centenas de
indústrias, não é - na essência - o mesmo problema?
Incompetência do Estado
em fiscalizar, ganância das empresas que não investem no despejo de seus
esgotos.
Não é por isso que a
Bahia da Guanabara está como está?
Ou a infraestrutura
ferroviária está sucateada?
Incompetência do Estado
para fiscalizar.
Ganância do setor privado
que não investe.
E uma gigantesca falta de
coragem e vergonha na cara de todos nós em exigir mudanças.
A tragédia natural do
Brasil é o brasileiro.