"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 26 de janeiro de 2019



No mundo lá fora, cidades só desaparecem em caso de tragédias naturais.
Tsunamis, terremotos, furacões.

Aqui não.
Aqui cidades desaparecem por culpa da incompetência e da ganância.
Absoluta incompetência do Estado para fiscalizar e ganância sem precedentes da iniciativa privada, que não investe na manutenção.
Aí cidades somem do mapa.
Gente morre às centenas.
Famílias perdem o pouco que têm.
E está tudo certo.
Porque é gente barata.
Gente que o Estado nunca investiu muito mesmo.
Cidades com infraestrutura precária.
Gente pobre, genérica.

É chato, deixa a gente triste, passa no Fantástico, mas né?
É lá no interior de Minas, tudo bem.
Com o tempo gente aceita.

Aí o Brasil vira o país da tragédia anunciada.
Brumadinho é tragédia anunciada.
Quando Mariana foi dizimada, apagada do mapa, um monte de especialistas avisaram que outras barragens apresentavam os mesmos riscos.
Mas deixaram para lá.

Uma multa aqui, uma reportagem ali e segue o enterro.
Incompetência e ganância dão nisso.
Brumadinho esfrega na nossa cara o problema que convivemos em aparente menor escala diariamente.

Ou o fato dos rios Tietê e Pinheiros serem rios mortos, recebendo esgoto clandestino de centenas de indústrias, não é - na essência - o mesmo problema?
Incompetência do Estado em fiscalizar, ganância das empresas que não investem no despejo de seus esgotos.

Não é por isso que a Bahia da Guanabara está como está?
Ou a infraestrutura ferroviária está sucateada?
Incompetência do Estado para fiscalizar.
Ganância do setor privado que não investe.

E uma gigantesca falta de coragem e vergonha na cara de todos nós em exigir mudanças.
A tragédia natural do Brasil é o brasileiro.