"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 13 de novembro de 2018

para além da vida, o amor



escrito por Oliver Bredariol

Você nasce, cresce, estuda e trabalha. E antes da morte, nesse meio tempo, você se apaixona e ama muitas pessoas “eternamente”. Daí, você morre.
Como a vida pode ser tão ínfima e perecível, perto do tamanho da vontade de quem se ama?

(...) Somos autodestrutivos, invejosos, gananciosos, odiosos e consumistas por natureza. E, por natureza, também amamos.
O amor, diferente de todos os outros sentimentos, rompe o tempo e o espaço. Ultrapassa os limites do real e continua a fazer sentido depois que partimos daqui. Provavelmente, em breve, descobriremos um cálculo matemático e metafísico pra provar a eficácia e permeabilidade do amor.

Ainda quando eu tratava de depressão, Vinícius, uma das pessoas mais importantes da minha curta existência, me disse que não podemos enxergar a vida como uma passagem, e sim, como o começo, o meio e o fim de tudo. Por isso, as coisas precisam ter significado aqui e não depois. Afinal, mesmo que a morte fosse um outro capítulo, ela não faria parte desse mesmo livro onde estamos agora.

Significado é sentido. Sentido é amor. E amor é puramente significado.

Ódio não faz sentido, preconceito não faz sentido. Comer e beber, embora bom, também não fazem sentido. Mas o amor faz. E faz todo! Se faz por inteiro e compartilhado. E mesmo que seja possível poder amar a si próprio, amor sozinho também não faz sentido.

A partir desse dia, eu comecei a dar abraços mais sinceros, dizer aos meus amigos “eu te amo” com mais frequência, beijar meus pais com toda a minha vontade, respeitar e ouvir o que o outro tem a dizer e, deixar amor nas coisas em que eu acredito ou faço. Afinal, de todas os seres vivos e objetos com prazo de validade, o amor é a única exceção.

Amanhã, quando sua existência não passar de história, 20, 30 ou 100 anos depois, ainda vai restar amor nas coisas pelas quais você zelou, nos lugares onde passou, nas pessoas em que você, de alguma forma, tocou, e até mesmo, nos textos que você escreveu. Nada mais.

Eu tenho muito medo de morrer. E se pra quem acredita em céu e inferno esse sentimento já é forte, pra mim, é um pouco pior.

E não me refiro ao como, quando e onde. Me refiro ao “com quem”. Qual será o último olhar que vai encontrar com o meu? Quem vai segurar a minha mão antes de partir? Estarei rodeado de pessoas que me amaram?

Como não sei a resposta para isso, eu me tranquilizo amando. E para além de me consolar, o amor, de quebra, ainda me deixe firme, me deixa saudável e me faz, por mais incrível que pareça, ainda acreditar nas pessoas e na significância da vida.