Aqui de fora, do lado que
se pode ver, tem uma pessoa lutando como louca para dar conta de todos os seus
papéis. Não podemos reclamar de nenhum deles. Todos são papéis que escolhemos, que assumimos e que
não abrimos mão.
O papel de pais, de
esposa ou de marido, o papel de filhos, de empresários, de profissionais, sejam
estes bem sucedidos ou não, o papel de defender alguma causa social, de
participar de uma instituição e ainda o papel de cidadão em um país com as
deficiências do nosso.
Enfim, ser a pessoa que somos dá um trabalho danado. Mas
é um trabalho bom! Trabalho escolhido por livre e espontânea vontade, ainda que
seja tão difícil equilibrar tudo. Todos conhecem a pessoa madura e forte na
qual nos tornamos.
Mas dentro de cada um de
nós, aqui deste lado que só eu e você
conhecemos, ainda falta muito!
Dentro de cada um de nós,
escondido e encolhido moram nossos medos, nossas pequenices, nossas falhas.
Aquelas que ainda não conseguimos vencer.
Nossos desejos proibidos, nossas
intenções negras, aqueles pensamentos sórdidos trancados a sete chaves.
É lá
dentro, lá onde ninguém chega, que residem nossas verdadeiras máculas. E
torcemos para que Deus seja tão ocupado que não tenha tempo de conhecê-las.
A maldade, a vaidade, o
ciúme e a inveja; este lobo mal que alimentamos silenciosamente.
Ah como é
difícil conviver com essa verdade! Como é difícil aceitar que somos tão frágeis
e que o caminho da verdadeira evolução é longo!
É certo que não somos só
isso! O que nos salva é que, na outra
jaula de nossos corações, reside um lobo bom. Capaz de amar e de se compadecer.
É ele que não nos deixa por em prática tudo que pensamos.
É ele que, entre um
dia e outro, acorda nossos sentidos e não nos deixa cometer um desatino.
É ele
que nos dá prudência, sabedoria, discernimento, razão e afeto na proporção
certa.
É ele que nos permite viver nossos papéis.
É ele que nos silencia na
hora da briga e nos dá voz na hora da defesa.
É ele que nos mostra o caminho e
nos traz de volta à nós mesmos.
Aqui
reside a nossa lucidez, a centelha de luz que carregamos. A verdadeira e
silenciosa bondade. A que luta contra nossas vaidades e pequenices.
E é ele,
este pobre lobo bom que carregamos, quem devemos alimentar todos os dias.
Difícil mesmo é saber
qual dos dois tem sido nosso guia.
O ser humano tem brigado
mais que o normal, tem se ofendido mais e tem ferido o outro com mais
facilidade.
Nesses últimos dias, aqui na
nossa “pátriaamadaidolatradasalvesalve”, temos
assistido brigas homéricas em função da política. Temos visto lobos ferozes,
esbravejando, rosnando e mordendo, na tentativa louca de provar que o outro
está errado em suas escolhas.
Vindos de todos os lados eles atacam e pervertem.
Alimentados pelo ódio, pela descrença ou pelo cansaço, eles brigam como se
estivessem num ringue, onde o vencedor tem que comer o outro vivo até que não
lhe sobre absolutamente nada, tampouco dignidade.
Existe um lobo bom
morrendo de sede e fome, alimente-o!