Existe uma praia na
Califórnia, chamada Glass Beach.
Por cima da areia ela tem
um tapete de pedrinhas de vidro multicoloridas que brilham sob a luz do sol. O
lugar é lindo. Mas, mais do que isso, aquela praia é um convite à reflexão.
Durante anos os moradores
da região jogaram lixo doméstico naquele lugar, sobretudo garrafas de vidro.
Faltava-lhes consciência, é claro, e as autoridades proibiram que se jogasse
qualquer vidro no local. Glass Beach tornou-se área de proteção ambiental,
deslumbrante, e, embora hoje seja proibido recolher os pedaços de vidro que lá
estão, tem gente que ainda o faz. Ironicamente, em uma região onde se tornou
proibido jogar pedaços de vidro, agora é proibido retirá-los. Mas não é sobre
isso que escrevo. É sobre o mar.
O mar e seu infinito
mistério. O mar e suas ondas que foram quebrando, sem pressa, cada uma das garrafas
abandonadas em suas profundezas. Que foram lapidando aquele lixo. Cada caco,
com o passar do tempo, foi se transformando numa pequena obra, lisa e esférica.
Até que os lindos pedaços de garrafa descartados no mar se misturassem à areia
da praia formando um dos mais fantásticos caleidoscópios de luz, um presente da
ação do tempo. Um mosaico de cores para o nosso deleite. A natureza
simplificando, solucionando um “erro” sem se focar nele.
Aquela praia, que fez do
lixo seu tesouro, me ensina tanto sobre a vida. É que de vez em quando a gente
precisa deixar a luta de lado e entender que a dor que nos emudece é a mesma
que nos amacia logo adiante. E, se o mundo segue nessa espiral ascendente sem
fim, devíamos aprender com ele. Devíamos confiar no tempo, acolher sem medo o
que “os moradores da região” jogam em nosso mar, e ter fé. Ninguém faz esferas
de luz tão bem quanto pessoas feridas. Alguns chamam isso de pedagogia divina.
Eu chamo de renascimento, resiliência.
Porque aprender é sempre
um presente, mesmo que, vez ou outra, nosso mestre seja a dor.
Solange Maia