Mãe é para sempre, presença necessária em qualquer etapa da
vida, tanto que, nos nossos momentos mais difíceis, é nela que pensamos – mesmo
que ela já tenha falecido. Mãe é um consolo universal, pois sabemos que ninguém
nos ama ou amou tanto quanto ela. Na hora do sufoco, entre rogar a Deus ou à
nossa adorada progenitora, Deus fica de estepe e nem se atreve a reclamar.
Porém, abnegação tem limite. Mães são amorosas e dedicadas
aos seus filhotes, mas, secretamente, contam os dias para vê-los bem criados,
tocando suas próprias vidas profissionais e afetivas, dando a elas o descanso
merecido e a certeza da missão cumprida. Como filha, fiz minha parte: com 19
anos, já trabalhava, com 24 morava sozinha, com 27 estava casada e aos 29
engravidei e comecei a formar minha própria família, enquanto minha mãe, no
mesmo período, foi fazer faculdade (aos 40 anos), trabalhar, viajar, reposicionar-se
na sociedade – claro que sempre por perto a fim de paparicar as netas, só que
agora de um jeito desobrigado, só love, só love.
Pois as coisas mudaram bastante. Filhos saindo de casa na
faixa dos 20 anos, abrindo mão de mordomia? Melhor não contar com isso.
Não faz muito tempo, na faixa dos 20, todos cumpriam os cinco
marcos da vida adulta: finalizavam seus estudos, conquistavam independência
financeira, casavam, tinham filhos e seu próprio endereço. Hoje, raros cumprem
cedo essas metas. Entre os 20 e 30, ainda estão zonzos diante de tantas opções
e preferem adiar o amadurecimento até... até que suas mães os expulsem de casa.
Só que mãe não expulsa filho. E eles, óbvio, vão ficando.
Em defesa deles, há um estudo que diz que há uma área do
córtex cerebral que leva realmente até 30 anos para se formar, justamente a
área responsável por planejamentos e priorizações. Hum, chegou em boa hora essa
desculpa científica. Porém, depois dos 30, como se explica que ainda haja
adultos vivendo com os pais, sem darem um rumo certo à vida?
O fato é que os jovens andam comodistas, relutando em se
jogar no mundo sem alguma garantia. Mas que garantia? Ninguém constrói a
própria história sem arriscar, errar, se frustrar, tentar de novo, passar por
dificuldades, erguer-se, cair, erguer-se outra vez. Como irão amadurecer sem
viverem essas experiências? Enquanto eles analisam calmamente a questão, as
mães veem o tempo passar e continuam servindo o almoço todos os dias para
marmanjos que ainda não decidiram o que querem ser quando crescer.
Você não deve ser um desses filhos, claro. Meus leitores são
autônomos, donos do próprio nariz, e visitam as mães por amor e saudade, não
para pedir arrego. Mas, se por uma hipótese remota, você ainda for um kidult,
como se diz lá fora (mistura de kid + adult), dê uma trégua para sua mãe ao
menos nesse domingo. Leve flores, e não sua roupa para ela lavar.