Todos sabem: chato é aquele que, ao ser perguntado se está
tudo bem, não consegue responder simplesmente que está. Ele acha que a pergunta
foi pra valer, então ele discorre sobre tudo o que tem passado e sobre como
anda sem esperança na humanidade. Como avisá-lo, sem que ele se sinta ainda
mais deprimido, que foi apenas um cumprimento e nada mais?
Minúcias a gente guarda para o nosso advogado. Ele certamente
vai precisar delas para nos inocentar.
Minúcias podem ser reservadas também para a família, já que
nossos pais e filhos adoram saber o que já aprontamos, aqueles segredos que só
podemos contar depois que o crime prescreveu e tudo vira piada.
Por fim, minúcias são bem-vindas em livros, na defesa de
teses e em consultas médicas. Em nenhuma outra situação que eu me lembre. Nem
mesmo (e principalmente) em conversa ao pé do ouvido com seu amor. Não quebre o
clima levando a conversa para muito longe de onde vocês estão.
Ao telefone, evite. Seu neto se machucou na escola? Tadinho.
Pule rápido para a parte em que ele se recuperou e ficou tudo bem. Adote a
presteza do WhatsApp. O quê? Você discursa pelo WhatsApp? Chegou de que
planeta?
Minúcias em festas, nem pensar. Alugar um convidado com uma
história comprida é uma inconveniência. As pessoas querem circular, dançar, e
não saber detalhes da sua operação no joelho. Você não operou o joelho? Sério,
acabou de fazer o caminho de Santiago de Compostela? Ótimo, condense a odisseia
em seis minutos. Sete, se foi tão fantástico assim. E troque para outro
assunto, a não ser que seu ouvinte pegue você pelo braço, leve-o até um canto e
implore pelos pormenores.
Quando estamos falando sobre nós mesmos, é quase
incontrolável fazer uma retrospectiva detalhada das nossas experiências, mas
lembre-se que a maioria das pessoas prefere o compacto dos melhores momentos. É
mais que suficiente.
Entendi, você não está falando sobre si mesmo, e sim sobre
seu primo que foi casado com não-sei-quem, que ele conheceu numas férias
não-sei-onde. Você está falando do seu professor de matemática da quarta série
que tinha propensão a ter acne. Você está falando da sua tia-avó falecida que
fazia ótimos bolinhos de chuva. Você está falando de pessoas que não tivemos a
honra de conhecer - e falando por horas, sem que a história empolgue. Não se magoe,
mas tente lembrar se você não teve um primo que ficou preso no elevador com a
Madonna, uma tia-avó que traficava maconha dentro dos bolinhos de chuva, um
professor que foi preso político. Se não teve, invente.
Conversar é uma delícia: trocar confidências, falar de
sentimentos, opinar sobre o mundo, dar dicas culturais, narrar aventuras,
contar episódios divertidos - a tarde inteira, a noite inteira. Mas se o
assunto for de uma banalidade extrema, não especifique demais. A gente ama
você, mas ninguém está com tanto tempo sobrando.