Ao anunciar para uma
amiga o fim de um namoro, a primeira pergunta que ela me fez (aliás, a única)
foi: “quanto tempo vocês ficaram juntos?”. Percebi que, dependendo da minha
resposta, ela decidiria se eu merecia um abraço apertado ou um simples “ah,
amanhã você nem lembra mais” e pularia para outro assunto.
“Seis meses”, respondi.
Adivinhe. Ela nem perdeu
tempo com a sequência da frase, disse apenas “ah” e então começou a falar de si
mesmo, seu tema favorito. Não mereci nem um “que pena, miga”.
Meu histórico romântico é
modesto em quantidade. Vivi um longo amor na adolescência, depois um casamento
que durou 21 anos e então um turbulento affair que durou oito. Não se pode
dizer que é o perfil de uma aventureira. Ao término dessa tripla jornada eu já
havia chegado aos 50, não era mais uma garotinha. Mas foi justamente depois
disso que alguns romances começaram a ser realmente passageiros se comparados à
minha média anterior. Seis meses pode, de fato, parecer um rolo sem
consequências que, quando chega ao fim, não estimula sua turma a alcançar um
lenço.
Mas, como diz meu amigo
Carpinejar, relações curtas nem por isso são pequenas. São curtas porque a
maturidade nos dá outra dimensão do tempo: já não fazemos investimentos a fundo
perdido. Conhecemos nossas capacidades e limitações, sabemos o que podemos
suportar e o que não, e até desenvolvemos a proeza de prever o futuro: isso
funcionará, isso nem com a bênção do santo. Mas tentamos. E de tentativa em
tentativa a gente vai escrevendo capítulos curtos tão significativos quanto
relações longevas consideradas “sérias”.
Sério, sério mesmo, nada
é, já que morreremos amanhã ou logo ali. Mas vale dar alguma gravidade aos
amores, não grave no sentido de sisudo, mas no sentido de importante. Sendo
assim, relações que duraram 100 dias, ou que duraram 72 horas, ou que nem
chegaram às vias de fato, habitando apenas o universo da fantasia, podem ser
tão impactantes quanto uma história arrastada com alguém que, como diz a piada,
você chama de “meu amor” porque esqueceu o nome da pessoa.
Relacionamentos iniciados
na juventude e que se estenderam por décadas nem sempre são tão dignos: às
vezes, é só a preguiça e o comodismo unidos contra a vontade de cair fora. Já
os amores da fase madura não dão ibope à farsa. Quem ainda tem 20 anos está
desculpado de se iludir, mas quem já tem alguma quilometragem não estica a discussão.
Isso não é desamor, não é
frieza. Ao contrário, é a crença entusiasmada de que é possível encontrar
alguém que equalize e que torne a vida mais completa e prazerosa - oxalá, pra
sempre. Mas sem condescendências insanas. Quem chegou aos 50, aceita a solidão
que lhe cabe e só abre mão dela se valer muito a pena. Se valer, amará com
entrega e verdade, mesmo sem a chancela da eternidade.