Há certos rituais que ainda são dos homens, hábitos
exclusivos entre pai e filho, que não podem se perder com o tempo e a
tecnologia.
Ensinar a se barbear com a devida espuma é um deles. Nada
mais bonito do que pai e filho próximos no espelho, rostos sobrepostos, o pai
pedindo licença para descer a lâmina na pele do filho, avisando que não vai
machucá-lo, que não é para ter medo, demonstrando a firmeza da diagonal do
gesto. O filho prestando atenção, e admitindo a exceção de uma mão que não a
sua tocando em sua face, como um beijo diferente, como parte da sua vida. E
depois colocar a toalha quente e borrifar loção, estapeando levemente os poros
abertos e partilhando a ardência saborosa e perfumada da virilidade. Que tudo
termine numa risada com "entendi, pai, entendi".
Fazer o nó da gravata é outra lição essencial. Acabei de
explicar ao meu filho Vicente. Tinha que ser eu. Para que pudesse lembrar de
mim em sua formatura, em seus dias de emprego, em suas saídas oficiais para
festas e casamentos.
É hastear a bandeira do nosso amor no colarinho. A gravata
traz uma delicadeza séria, uma doçura digna. Não importa a cor, será o nosso
jardim nos ombros.
Quando ele firmou o nó pela primeira vez em seu pescoço, eu
senti que nenhum mal e desavença posterior nos soltaria. Estávamos presos aos
cadarços das camisas.
Foi um misto de orgulho e de nostalgia. Era pôr um laço
definitivo de filiação. Eu o deixava ir para ficar na memória. Aceitava, com
dificuldade, que ele estava grande, de que cresceu, de que deveria abrir o seu
caminho sem precisar de mais ninguém para pedir favor. Daria conta de si
sozinho dali por diante.
Não haverá abraço no futuro que nos torne tão rentes como
naquele momento.
Assim que deve ser: é o filho que fará a gravata no enterro
do pai. Valor a ser passado de geração em geração, pelos ciclos da existência.
Só ele repetirá a minha assinatura, ponto por ponto, dobra
por dobra, não aceitando a ponta da gravata maior do que a cintura, não
aceitando a despedida de qualquer jeito, mantendo o respeito e o capricho da
minha essência na aparência.