Quando eu era pequena, vivia na ponta dos pés espiando e
desejando habitar no mundo dos adultos. Na minha incorrigível ideia, adultos
sabiam das coisas. Inventavam outras.
Então, cresci. Aprendi tudo dos adultos. Aprendi o que
desejava e o que nunca quis. E repeti as lições. Adultos franzem a testa. Criam
rugas. Andam apressados. Demoram sorrir. Trabalham o tempo todo. Compram muitas
coisas. Guardam em armários. Possuem desejos estranhos. Fazem coisas
contraditórias. Engordam. Ficam zangados.
Adultos possuem problemas reais e imaginários. Tomam remédios
sem parar e nunca melhoram. Adultos fazem regras e desobedecem as leis.
Guardam dinheiro. Guardam mágoas. Conservam coisas, descartam
pessoas.
Adultos são cheios de dúvidas. Complicam a vida. Fazem
perguntas e não encontram respostas.
Adultos brigam por seus dilemas. Aventuram-se pelo conforto.
Adultos desamparam quem precisa. Desatam laços. Fazem nós nas situações. Querem
ultrapassar limites. Cometem loucuras sem motivos. Falam duramente. Ferem sem
necessidade. Adultos perdem o juízo, a calma, a alma.
Adultos colecionam medos. Competem inutilmente. Estudam
fórmulas, teorias, conceitos, regras e nunca usam.
Adultos ficam tristes por qualquer coisa. Preocupam-se a toa.
Choram sem razão. Entopem-se de felicidade provisória. Desiludem-se. Não se
entendem. Amam por obrigação. Esquecem por suposições. Machucam por ilusões.
Passam adiante as responsabilidades. Esquecem das flores. Afugentam os
pássaros. Resumem os carinhos. Dispensam a alegria.
Com os adultos a folia é silenciosa, os palhaços ficam sérios
e o circo dorme.
Adultos escolhem pelos olhos e condenam pelo coração. São
coisas que aprendi e quero esquecer.