No mês de setembro, ocorre a maioria dos aniversários de
minha família: eu mesma, netas, filho, irmão, além dos que já se foram, como
mãe e avó materna, sem contar os amigos. Suponho que tenhamos sido inventados
nos cálidos meses de verão. Tenho, em relação ao correr do tempo, não amargura
ou medo real, mas curiosidade – desde quando, menina mimada, bati o pé porque
queria alguma coisa “agora”. Algum adulto presente achou graça e resolveu
liquidar a minha manha:
“Deixa de ser boba, o agora nem existe”.
Iniciou-se um diálogo surreal: a menina curiosa e teimosa
insistia em saber que história era aquela. Explicaram que o tempo passa
constantemente, de modo que, quando pronunciamos a última letra da palavra
“agora”, esse agora já é passado. Obstinada, várias vezes tentei pensar a
palavra “agora” empilhando as letras numa coisa só – mas desisti.
Então, a cada momento, tudo passava, mudava e já era outro?
Eu já era outra? Comecei a me angustiar, eu me angustiava com coisas que pouco
tinham a ver com crianças, que, segundo adultos de então, deviam brincar,
comer, dormir e se portar bem. Ainda por cima, alguém com humor macabro me
alertou: “O tempo só para de passar quando a gente morre”.(Assunto para outra
crônica.)
Sempre tive vontade de ser adulta: achava a vida e os
assuntos dos “grandes” muito mais interessantes do que os infantis. Detestava
ser comandada, numa época de educação bastante severa: por que ir para a cama
às sete e meia? Por que só comer comidinha inocente, como purê de batata e
carne de frango?
Por que não falar muito à mesa? Por que ter de aprender
prendas domésticas como toda boa menina? Eu não queria ser uma boa menina:
queria ser a Emília do Monteiro Lobato.
Aí fui vendo que a passagem do tempo não apenas significava
transformação e novidades (parte boa para quem facilmente se entediava), mas
também perdas, e para muitos o terror da perda da juventude. Tornou-se uma
epidemia a busca desesperada por deter a qualquer custo os sinais do tempo:
parecer trinta aos sessenta, ter lábios sensuais aos setenta – vale a pena?
A velhice (desde que não com o detestável nome de melhor
idade) é uma fase natural da vida – um dom a ser curtido. Dor e doença não
escolhem idade. Nem sempre a juventude é linda. No avançar do tempo, importa
preservar certa elegância (quando dá…) e cultivar o bom humor (quando
possível…). Tônia Carrero, ao fazer oitenta, respondeu a uma jovem jornalista
que lhe perguntava como encarava a velhice: “Velhice? Eu acho ótimo! Porque a
alternativa é morrer jovem”. E minha amada comadre Mafalda Verissimo, que
sempre me faz falta, contou, fingindo-se indignada, que alguém ao telefone,
sabendo que era ela, exclamou: “Dona Mafalda! A senhora, ainda tão lúcida!”.
Que se arrume o que nos incomoda, mas dentro de alguma
normalidade. Deixem a gente ter o privilégio de envelhecer em paz, que a gente
vai tentar não ficar ainda por cima rabugenta. E quem sabe o rio do tempo
desemboca em algum mistério mais interessante do que nossas trapalhadas de
agora?
No dia 01/10, comemora-se o “Dia do idoso!”