O termo vem do latim pater patriae e simboliza o papel de
determinada personalidade na formação da unidade nacional e de sua
independência.
O nosso Pai da Pátria não é um, mas dois: Dom Pedro I e José
Bonifácio. Cada nação tem o seu, que serve de modelo de heroísmo e dignidade.
O Pai da Pátria está acima de nós, como numa família
tradicional. Não em valor, que valorosos somos todos, mas em
representatividade. O Pai da Pátria poderia, inclusive, ser o epíteto de todo
chefe do executivo, não fosse, especialmente no nosso caso, uma piada. Há
pesquisas sérias sobre a importância de se ter um pai reconhecido em certidão.
O Brasil, de forma simbólica, tem os dois já citados, mas, na prática, é como
se fossemos filhos de um pai fantasma, que não nos deu o senso de inclusão
familiar, de responsabilidade e de orgulho, deixando-nos à deriva.
Quem me dera ser
crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha,
mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o
tempo passou e me cobrou alguma lucidez e coragem para encarar a realidade.
Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar
em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois
desde que essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país
descoberto por engano, por causa de uns ventos inesperados que conduziram as
caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui sem querer, e
quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério,
nunca fomos e jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um
acidente de percurso do qual se tenta tirar alguma vantagem para que o engano
de rota não resulte em total perda de tempo.
Se você discorda, se
ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me
declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio
porque tem parentes no convés, apenas por isso.
Sorte a minha, e provavelmente a sua, de que colecionamos
algumas vitórias particulares: amigos fiéis, o gosto pela música, amar e ser
amado, gozar de boa saúde, poder ir ao cinema de vez em quando, não ter
vergonha do passado e acreditar-se merecedor de um banho de sol, de um banho de
mar, de um banho de chuva, essas trivialidades naturais que mantém o corpo e a
alma azeitados. A vida vale a pena em sua simplicidade, aquela que ainda
comove, pois rara.
Mas não nos gabemos,
pois ainda que nossa família nuclear e nossa trajetória pessoal não nos envergonhem,
somos todos habitantes de uma pátria órfã.