Joesley chorou quando lhe abriram a porta da cela em que está
encerrado. Geddel continua chorando no fundo da cadeia. Lula e Temer ainda
estão livres, mas o longo braço da lei já lhes bateu no ombro. Homens ricos e
poderosos que se achavam intocáveis. Achavam que tinham sorte.
Existe sorte? Vou contar uma história antiga, mas bastante
ilustrativa a respeito: a história de Creso, que, a seu tempo, foi o homem mais
rico e poderoso do mundo. Uma mistura de Joesley e Lula antes da Lava-Jato.
Creso era rei da Lídia, que ficava na atual Turquia. Segundo
Heródoto, teria sido ele o inventor de algo que você tem de sobra, opulento
leitor: o dinheiro.
Tudo ia bem com o rei, até que ele recebeu a visita do grego
Sólon, que não era rico, mas era inteligente. Consideravam-no um dos sete
sábios da Grécia Antiga, o que não é pouco, porque os gregos antigos eram bem
sabidos.
Creso, ciente da fama do visitante, chamou-o ao palácio.
Queria se exibir. Mostrou-lhe as suas riquezas, que eram, de fato,
impressionantes. Terminado o tour, perguntou:
- Agora me diga: quem é o homem mais afortunado que você já
conheceu?
Sólon pensou um pouco e respondeu: - Telo, de Atenas.
O rei levou um susto. Por todas as escravas trácias de pele
leitosa e bustos fartos, quem era esse Telo, de Atenas?
Sólon respondeu que Telo havia sido um homem bom e rico, que
gerou filhos belos e nobres e que morreu dignamente, com a espada na mão.
O rei ficou irritado, mas se conteve. Insistiu:
- E quem foi o segundo homem mais afortunado que você
conheceu?
- Ah! - disse Sólon. - Foram Cleóbis e Bíton, dois irmãos
argivos.
O rei rosnou com fúria real:
- E quem são esses?
Sólon contou que Cleóbis e Bíton eram atletas de grande força
física. Um dia, a mãe deles estava atrasada para um compromisso e, num tempo
sem Uber, a parelha de bois que a levaria se atrasou. Os irmãos não tiveram
dúvida: puseram-se na canga e puxaram a carroça com a mãe em cima. Ela chegou
na hora aprazada e todo o povo argivo cumprimentou-a pela pontualidade e pelos
filhos dedicados que tinha. Cleóbis e Bíton também ficaram felizes, mas, mais
do que isso, ficaram cansados. Deitaram-se no templo para tirar uma soneca e
não acordaram mais.
A maioria dos pais modernos preferiria chegar atrasada e
manter os filhos vivos, mas não era assim que se pensava na Argos daquele
tempo. Os argivos, a mãe inclusive, festejaram a façanha dos rapazes e
levantaram estátuas em honra deles.
A essa altura, Creso já estava fulo. Como é que podia Sólon
achar homens comuns mais felizes do que ele?
- E eu??? - gritou. - Tendo visto minha riqueza, você não
acha que sou afortunado?
Sólon ponderou que Creso continuava vivo e que os deuses às
vezes nos pregam peças desagradáveis quando menos esperamos. - Sua história tem
de terminar para eu saber se você foi afortunado - explicou. Creso dispensou o
sábio com um dar de ombros, pensando que ele não era tão sábio assim, afinal.
Não muito depois disso, Creso cometeu a temeridade de
arriscar sua sorte e atacar a Pérsia, do rei Ciro. Foi derrotado, capturado e
amarrado a um poste. Sob as vistas de Ciro, os persas começaram a amontoar
lenha e gravetos em volta de Creso, preparando-se para queimá-lo vivo.
Percebendo que sua sorte acabara, o triste rei lembrou-se de
Sólon e começou a gemer:
- Sólon... Sólon... Sólon... Ouvindo-o, Ciro perguntou quem
era aquele deus desconhecido que Creso invocava na hora da morte. Creso contou
sobre Sólon e concluiu:
- Agora sei o que ele quis dizer. Agora aprendi a lição.
Ciro, que era esperto, viu que aquilo ensinava algo a ele.
Percebeu que, no futuro, poderia se tornar um Creso. Então, mandou que os
soldados o libertassem e o nomeou seu conselheiro, para que nunca esquecesse
que a felicidade e a riqueza são fugazes, mas a sabedoria é para sempre.
Aprendam, portanto, Temer, Lula, Joesley, Geddel e tantos mais.
Porque ainda não chegamos ao fim.
__David Coimbra