“Te desejo toda a felicidade que puder aguentar”. Foi com essa frase que uma pessoa que gosta muito de mim encerrou seu e-mail, e fiquei petrificada diante do computador, um pouco pela explosão de gentileza de alguém que nem conheço, e outro tanto pela contundência que me fez pensar: quanta felicidade eu aguento?
Felicidade não tem a ver com oba-oba, riso frouxo, vida
ganha. Isso é alegria, que também é ótima, mas não tem a profundidade de uma
felicidade genuína que engloba não só a alegria como a tristeza também.
Felicidade é ter consciência de que estar apto para o sentimento é um
privilégio, e que quando estou melancólica, nostálgica, introvertida,
decepcionada, isso também é uma conexão com o mundo, isso também traz evolução,
aprendizado.
Feliz de quem cresce, mesmo aos trancos.
Infelicidade, ao contrário, é inércia. A pessoa pode passar a
vida inteira sem ter sofrido nada de relevante, nenhuma dor aguda, mas
atravessa os dias sem entusiasmo, anestesiada pelo lugar comum, paralisada por
seu olhar crítico, que julga os outros sem nenhuma condescendência. Para ela
todos são fracos, desajustados ou incompetentes, e não sobra afetividade nem
para si mesma: se está sozinha ou acompanhada, tanto faz. Se lá fora o sol
brilha ou se chove, tanto faz. Se há a expectativa de uma festa ou de uma
roubada, tanto faz. Essa indiferença em relação ao que os dias oferecem é uma
morte que respira, mas ainda assim, uma morte.
Eu reajo, me movo, procuro, arrisco - essa perseguição a algo
que nem sei se existe é a homenagem que presto à minha biografia. Nada me
amortece, tudo me liga, tanto aquilo que dá certo como também o que dá errado.
Felicidade é uma palavrinha enjoada, que remete só ao bom, mas dou a ela outro
significado: é uma inclinação corajosa para a vida, que nunca é só boa.