Ou muito me engano, ou as mulheres estão se reproduzindo feito coelhas. Temos irrompido em bando. É muita mulher no mundo. É mulher para tudo que é canto. Uma ocupação epidêmica.
Alguém irá lembrar que não são tantas assim atuando na
política, e tem razão – ainda não somos muitas em plenário - mas tampouco somos
maioria apenas em academias de ginástica e salões de beleza. Estamos espalhadas
por todos os lugares que interessam, principalmente em ambientes que envolvem
arte, cultura, reflexão, conhecimento.
Num espetáculo de teatro, pode reparar: na plateia, só dá
mulher. São 10 para cada homem – e acho que estou exagerando na
condescendência, talvez sejam 15 para cada um deles.
Dentro de um cinema, a diferença diminui, mas ainda estamos
em maior número (outro dia ouvi uma explicação peculiar: é que mulheres vão
umas com as outras ao cinema sem nenhum constrangimento, enquanto que um homem
não pode convidar um amigo porque pensarão que ele é viado – não é uma
sociedade evoluída a nossa?)
Em exposições: mais mulheres, todas absorvendo novidades.
Em saraus: mais mulheres, todas escutando poesia.
Em palestras de filósofos, escritores, humanistas: mais
mulheres, todas de ouvidos atentos.
Em shows: o número tende a se equilibrar, mas ainda mais
mulheres.
Dentro de livrarias: mulheres lendo, publicando, dilatando o
intelecto.
Ganhamos menos que os homens, e mesmo assim reservamos parte
do nosso salário (quando é possível) para atender às demandas da nossa
sensibilidade, a fim de termos uma existência mais rica, mais estimulante.
Agora adivinhe quem lota as cadeiras de bares e botecos: ora,
mulheres, claro. Depois do teatro, do cinema, da palestra, voltar pra casa?
Teria graça. Bora conversar umas com as outras sobre tudo o que foi visto, de
preferência com um cálice de vinho ou um chope gelado em mãos.
Em substituição ao obsoleto “lugar de mulher é na cozinha”,
surgiu o libertário “lugar de mulher é onde ela quiser”. Mas tem que querer
mesmo. Ainda há quem se acomode num confinamento providencial (um casamento
careta, uma religião limitadora, um martírio inventado, umas dores lombares) a
fim de declarar-se impedida de ser livre.
Cada um sabe de si. Ninguém é obrigado a realizar desejos que
não tem.
Mas pra quem não cansa de expandir-se, a programação é vasta
e é proibido bobear. De tudo o que temos aprendido fora de casa, viver com
sabedoria tem sido a melhor lição.