Nem ouse criticar o papel higiênico porque tem perfume de
jasmim e lavanda e provoca alergia. Agradeça cada um dos vinte espirros, e diga
amém na volta do sopro.
O papel higiênico é um lenço macio, quase molhado ao natural,
irmão gêmeo do guardanapo. Não agride o nariz, muito menos lá atrás. Talvez
tenha sido a nossa maior evolução tecnológica. Os cientistas fizeram valer a
expressão “sentar a bunda na cadeira”.
Mas na minha meninice, nos anos 1970, ele tinha aspecto de
lixa. Podia raspar paredes de uma casa em reforma ou polir o carro e ninguém
notaria a diferença.
Foi a pior fase do papel higiênico desde a sua invenção, na
China, em 875. Apresentava uma superfície abrasiva, mais afeita a madeira e
metal do que à pele.
Nada de folha dupla ou tripla: a bobina vinha numa única
camada rosa, com sobras de reciclagem. Você podia enxergar um incômodo papelão
cinza dentro da textura colorida. De tão duro, o produto não se desmanchava com
a água. De tão áspero, rasgá-lo fazia barulho. Quase indestrutível, naquela
linha de coisa ruim não morre.
Recuso usar rosa até hoje não pela convenção masculina (cor
para meninas), mas por aversão a esse objeto que aparecia nas melhores e piores
privadas, da fossa da rodoviária ao trono do aeroporto, e maltratava todos, sem
distinção de classes.
Um jornal seria mais gentil. Uma folha de milho seria mais
educada. Assim que você saía do banheiro, acumulava brotoejas e esfoliações. As
bundas das crianças passavam do cuidado excessivo do Hipoglós nos primeiros
anos de bebê para o castigo infinito da ardência do rolo. Nas praias, as
nádegas apareciam pipocadas. Dava pena testemunhar a carnificina nos países
baixos.
Considero realmente um milagre não ter tido hemorroidas.
Considero realmente uma bênção ter sobrevivido aos constantes maus-tratos na
infância.
É injusto reclamar, atualmente, do papel higiênico. A rinite
alérgica é o menor dos males. Você poderia passar a vida inteira ralando o
traseiro.