Uma ideia criativa alavanca as vendas. Slogans como “o primeiro
sutiã a gente nunca esquece”, “não é nenhuma brastemp” e “bonita camisa,
Fernandinho” ficaram no imaginário coletivo e são alguns dos cases que orgulham
a propaganda brasileira. Porém, na ausência de uma sacada genial, o recurso é
buscar o depoimento de pessoas famosas, já que elas encurtam o caminho até a
aceitação do consumidor.
Esta eficiência, claro, tem um preço. Já vi atriz que mora na
Barra da Tijuca anunciar um condomínio em Porto Alegre dizendo que era o lugar
onde sempre sonhou morar. Por que uma atriz global iria querer morar aqui no
Sul? Por nenhum motivo. Ela jamais cogitou essa hipótese. Queria apenas
embolsar os 50 mil do cachê para terminar de pagar seu apartamento de frente
para o mar. Pareceu-lhe um preço justo pelo vexame de ter que aparecer em
horário nobre dizendo uma inverdade.
Por um dinheiro extra – não qualquer dinheiro, mas um extra
de muitos dígitos –, há quem deixe o ego de lado. Quem não se lembra de Gloria
Pires dizendo que iria nos contar um segredinho? “O Orlando tem caspa”. Pois é,
o Brasil inteiro descobriu que o marido de uma de suas mais talentosas atrizes
tinha caspa e havia resolvido o problema com determinado xampu. Beleza. Logo o
comercial saiu do ar e o casal recebeu sua grana honesta.
Se o Orlando tinha caspa mesmo, ou ainda tem, será sempre uma
incógnita que roubará nosso sono. O que importa é que nenhum crime foi cometido
– o consumidor sabe que propaganda testemunhal não é feita por filantropia.
Os cachês são altos porque os riscos também são. Maitê
Proença vendeu sua credibilidade para anunciar uma marca de anticoncepcionais
que se revelou fraudulenta: algumas mulheres engravidaram por ingerirem pílulas
de farinha. A empresa foi autuada e ainda teve que pagar indenização para a
atriz, que fez muito bem em buscar seus direitos.
Por essas e outras, é bom pensar direitinho antes de usar a
própria imagem para vender detergentes, remédios, sabonetes, cervejas. Vá que o
dono da empresa esteja usando uma tornozeleira eletrônica, vá que baratas
estejam perambulando perto demais dos estoques, vá que esqueceram de comentar
esses detalhes no contrato.
A repercussão da Operação Carne Fraca pode ser exagerada, mas
o estrago está feito: Tony Ramos se queimou por enaltecer as virtudes de uma
empresa sob suspeita. Diante de uma oferta milionária, não titubeou– alguém
iria?
O Brasil não é um bom distribuidor de renda, mas o vexame
está ao alcance de todos.