"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 22 de março de 2017

a eles


Gosto de refletir sobre a condição humana, essa que unifica a todos, não importa a idade, raça, condição financeira. Aquilo que a gente carrega dentro (dores, desejos, sonhos) e que formata a nossa essência.

Raramente escrevo sobre política, pois sou movida a entusiasmo, e política, ao contrário, me desanima. Acredito que deveríamos devolver o Brasil para os índios e pedir desculpas, mas não há como voltar no tempo. É preciso lidar com esse monstro que geramos, um país onde há um encantamento patético pelo poder, um fascínio cafona e provinciano. Em vez de cidadãos maduros trabalhando pelo bem social, a maioria dos servidores se apega a cargos, perdendo facilmente o senso de justiça, ética e decência. É um vexame público. Dá para adivinhar seus pensamentos: “Que a imprensa reclame, que as redes explodam, se eles estivessem aqui fariam o mesmo, vamos livrar o nosso que é o que interessa”. Chego até a escutar o sotaque de alguns.

Livrar o nosso. Nosso de quem? Nada é deles. Dinheiro que vem do trabalho de cada habitante do norte, do centro, do sul. NADA é deles. O que poderia ser deles – a biografia honrada - foi negligenciado em troca de sentirem-se imperadores de coisa nenhuma. Vão morrer menosprezados pela pátria e deixarão uma vergonha colossal de herança para os filhos.

Pois é, eles esquecem que vão morrer. Além da ausência total de escrúpulos, falta também essa humildade.

Estou escrevendo para o presidente, governadores, senadores, deputados, ministros, todos aqueles que têm motivo para não dormir à noite, seja porque foram citados em delações ou porque foram coniventes com os trambiques rotineiros de Brasília. Escrevo para os que não têm habilidade para nada além de passar a perna no país e faturar com isso. Para os que acreditam que ser poderoso é fazer uso despudorado do lobby, arregimentar uma legião de puxa-sacos, dar explicação sobre sua conduta em frente a microfones e perder a capacidade de se avexar pela reputação espúria que construiu.

A todos: por favor, compostura. Não entrem para a história como ratos. Assumam suas responsabilidades sem colocar uma nação inteira em risco. Se tiverem que ir para o sacrifício, vão - de cabeça em pé, sem recorrer a manobras indignas. Sejam homens. 200 milhões de olhos estão sobre vocês, testemunhando a desmoralização de suas carreiras. A democracia é um bem valioso. Trabalhem pela sobrevivência dela ao menos no último ato.