Gosto de refletir sobre a condição humana, essa que unifica a
todos, não importa a idade, raça, condição financeira. Aquilo que a gente
carrega dentro (dores, desejos, sonhos) e que formata a nossa essência.
Raramente escrevo sobre política, pois sou movida a
entusiasmo, e política, ao contrário, me desanima. Acredito que deveríamos
devolver o Brasil para os índios e pedir desculpas, mas não há como voltar no
tempo. É preciso lidar com esse monstro que geramos, um país onde há um
encantamento patético pelo poder, um fascínio cafona e provinciano. Em vez de
cidadãos maduros trabalhando pelo bem social, a maioria dos servidores se apega
a cargos, perdendo facilmente o senso de justiça, ética e decência. É um vexame
público. Dá para adivinhar seus pensamentos: “Que a imprensa reclame, que as
redes explodam, se eles estivessem aqui fariam o mesmo, vamos livrar o nosso
que é o que interessa”. Chego até a escutar o sotaque de alguns.
Livrar o nosso. Nosso de quem? Nada é deles. Dinheiro que vem
do trabalho de cada habitante do norte, do centro, do sul. NADA é deles. O que
poderia ser deles – a biografia honrada - foi negligenciado em troca de
sentirem-se imperadores de coisa nenhuma. Vão morrer menosprezados pela pátria
e deixarão uma vergonha colossal de herança para os filhos.
Pois é, eles esquecem que vão morrer. Além da ausência total
de escrúpulos, falta também essa humildade.
Estou escrevendo para o presidente, governadores, senadores,
deputados, ministros, todos aqueles que têm motivo para não dormir à noite,
seja porque foram citados em delações ou porque foram coniventes com os
trambiques rotineiros de Brasília. Escrevo para os que não têm habilidade para
nada além de passar a perna no país e faturar com isso. Para os que acreditam
que ser poderoso é fazer uso despudorado do lobby, arregimentar uma legião de
puxa-sacos, dar explicação sobre sua conduta em frente a microfones e perder a
capacidade de se avexar pela reputação espúria que construiu.
A todos: por favor,
compostura. Não entrem para a história como ratos. Assumam suas
responsabilidades sem colocar uma nação inteira em risco. Se tiverem que ir
para o sacrifício, vão - de cabeça em pé, sem recorrer a manobras indignas.
Sejam homens. 200 milhões de olhos estão sobre vocês, testemunhando a
desmoralização de suas carreiras. A democracia é um bem valioso. Trabalhem pela
sobrevivência dela ao menos no último ato.