Garçom no Rio de Janeiro é como sogro: a princípio, não gosta
de você. Diferentemente de outras cidades onde você senta e é logo visto, lá
você senta e desaparece. Precisa fazer coreografias desesperadas para ser
atendido. Receber o cardápio pode significar a sua morte.
O abandono na mesa trará letal desprestígio. Costuma
significar o fim precoce de um namoro, de um negócio em potencial, de uma
amizade no nascedouro. É uma humilhação levantar a mão inúmeras vezes e jamais
ganhar atenção.
Demorei a compreender a aristocracia do garçom carioca. Ele
não é garçom, nasce maître.
Em todas as minhas experiências botequeiras, apelava para
querido ou amigo, e nada. Não vinha em minha direção. Ele me ignorava. Não
havia como pedir um prato ou uma bebida. Ou seja, não tinha como existir, pois
comer e beber são os gatilhos de qualquer papo.
Até que descobri a santa estratégia: garçom apenas atende bem
quando chamado pelo nome. Perda de tempo assoviar e gritar ei, oi, ui – ele lhe
tratará com capricho ao ser identificado. Descobrir o nome do garçom é o kit de
sobrevivência na noite.
Foi o que fiz na semana passada quando levei Beatriz a um bar
no Leblon. Logo no início, quando ele me alcançou o menu, perguntei quem era e
esbanjei o poder de persuasão.
Devo ter chamado o Alberto mais vezes do que pronunciei o
nome de minha mulher naquela noite. Estava ficando chato, porém a receita
vingou perfeitamente. A cada nova necessidade, assumia uma postura redentora,
de São João Batista a sempre batizar o sujeito no Rio Jordão do meu chope:
– Por favor, Alberto!
– Alberto?
– Gentileza, Alberto?
Ele tornou-se o meu Messias dos bolinhos de bacalhau e da
porção de fritas. Entre falar o seu nome e fazer o pedido, não demorava nem 10
segundos. Ele corria entre as mesas com larga vantagem entre os seus colegas,
um verdadeiro Usain Bolt das bandejas.
Já comemorava o êxito da fórmula, já imaginava escrevendo um
livro de autoajuda revelando a chave do sucesso da boemia, já me via na lista
dos mais vendidos da revista Veja, mas chegou a conta e tratei de bancar o
canastrão diante do 10% opcional:
– É obrigatório, Alberto, pelo seu excelente atendimento.
– Obrigado, senhor, só que meu nome é Roberto.