Amor é uma forma de escapar da vulgaridade. Amor é uma
mentira que amamos contar. Amor é um álibi para crimes e casamentos.
O amor já foi uno, concreto e definido. Mas o século mudou e
com ele as variantes do amor, que se multiplicaram. Hoje há diversas
formatações para vivenciá-lo, são inúmeros os seus significados e ilimitadas as
suas maneiras de encantar e transformar. O amor romântico eu e você para sempre
é apenas uma de suas modalidades.
O que é o amor, afinal? Impossível resumir num só conceito.
Amor é gratidão por alguém ter nos tornado especial. Amor é a realização de um
ideal criado ainda na infância. Amor é a possibilidade de repetir o mais
importante feito de nossos pais – aquele sem o qual não teríamos nascido. Amor
é projetar no outro aquilo que nos falta. Amor é erotismo. Amor é uma
experiência sensorial. Amor é carência. Amor é o gatilho para formar uma
família. Amor é aquele troço sem razão que bagunça a nossa vida. Que melhora a
nossa vida. Que piora a nossa vida. Que justifica a nossa vida.
Amor é uma forma de escapar da vulgaridade. Amor é uma
mentira que amamos contar. Amor é um álibi para crimes e casamentos. Amor é a
vingança contra a objetividade. Amor é divisão de fardo. Amor é um antídoto
contra a solidão. Amor é uma invenção do cinema e da literatura. Amor é paz.
Amor é a busca de um tormento que torne a vida mais emocionante. Amor é a
vitória do cansaço, já que paixões sequenciais exaurem. Amor é o nome que se dá
para uma emoção que nos domina e da qual não queremos ser libertados.
Amamos pais, irmãos, amigos. Amamos os namorados que tivemos
e os que ainda teremos, amamos nosso marido até o dia em que ele não volta mais
para casa, amamos nossos ídolos até que eles nos decepcionem, amamos nossos
filhos mesmo que nos decepcionem, amamos nosso cão e nosso gato quase acima de
Deus, amamos Deus acima de tudo pois cremos que ele não nos faltará, amamos a
nós mesmos apesar de saber que nem tudo é amável em nós.
Amor não é uma desculpa esfarrapada. Ela é muito bem
costurada.
Amor pode brotar de um olhar, de um beijo, de um desejo. Amor
é encasquetar. Se alguém lhe faz perguntas a respeito, você, na falta de
argumento melhor, responde que é amor, que sempre foi amor, e ninguém espicha a
conversa porque contra o amor não há réplica.
Como pode alguém ter amado uma pessoa ontem e hoje amar
outra, como pode ter amado uma mulher e hoje um homem, como pode amar duas
mulheres ao mesmo tempo, como pode já ter vivido com vários, como pode sentir
amor por um salafrário, como pode sentir-se inteiro repartindo-se em dois, como
pode ser poli, multi, bissexual, bígamo, hétero, homo, fiel, infiel, amoral?
Como, diante deste sentimento, ter alguma certeza?
O amor paira acima das classificações. Tem mil jeitos, mil
formas, mil dobras. É a nossa maior proeza.