O Brasil naufraga. A cada dia a situação brasileira muda – em
alguns aspectos geralmente negativos – tão depressa que, quando se pensa em
escrever um artigo, já as coisas degringolaram ou se confundiram um pouco mais.
Portanto, é sempre em parte um tiro no escuro: quem sabe, até
sair o texto, mais coisas graves terão acontecido e não consegui, na hora,
atualizar?
A grande nau com seus 200 milhões de passageiros quase raspa
o fundo do mar, onde ficará atolada se não tomarmos medidas. E nós, os comuns
mortais, nós, o povo – porque povo não são só os pobres, os miseráveis, os
despossuídos, os abandonados pelo governo, os pobres ingênuos iludidos ou os
furiosos campesinos que desfilam com bandeiras e camisas vermelhas, ameaçando
com foices sem ver os próprios enganos -, o que nós, o povo, repito, podemos
fazer?
Além de tentarmos levar nossa existência e trabalho da maneira
mais decente possível, na dura lida para conseguir pagar as contas e manter uma
vida digna para a família, e torcermos para que os que mandam no país tomem as
providências salvadoras, pouco podemos fazer, a não ser falar, ler, nos
informar, e – isto sim – sair às ruas.
(...)
Tenho escrito especificamente sobre esta nau vítima de
tamanho desastre. Tenho pensado nela insistentemente muitas horas do meu dia, e
em alguma hora insone de madrugada, quando acordo, como tantos brasileiros, me
perguntando: e agora? O que vai suceder, quem vai comandar?
Pois estamos, não oficialmente, mas de fato, sem comando, sem
experiente timoneiro que nos guie, os marinheiros aturdidos, alguns líderes
apenas começando a tomar pulso e a ajudar no leme.
Tomamos consciência do perigo real, e protestamos
pacificamente: 2 milhões de pessoas nas ruas do Brasil clamando pelo seu
direito a escolas e hospitais públicos decentes, postos de saúde funcionando e
dando os remédios básicos, estradas transitáveis; que a economia em redemoinho
descendente não trave ainda mais nossa já dura vida cotidiana.
Que não desmoronem mais casinhas e edifícios do Minha Casa
Minha Vida, malconstruídos, ou erguidos em locais proibidos, como à beira de
uma represa.
Que os desperdícios em gastos do governo sejam zerados, que
as assombrosas revelações, cada dia comprovadas, sobre roubos gigantescos na
Petrobras e outras estatais não desabem sobre a população como um maremoto num
país ingovernável e paralisado, onde propagandas enganosas causaram o
endividamento impagável de milhares de famílias; que se interrompa e reduza o
desemprego, que massacra muito mais pessoas do que se imagina; que se corrijam
a humilhação e o isolamento do país no cenário internacional, pela patética
atuação no campo diplomático.
Estamos roçando o fundo do mar de todos os naufrágios: não se
divisa uma solução simples que possa mudar o cenário assustador.
Que a gente não naufrague, mas que uma fórmula quase
milagrosa – que não conheço, mas desejo -, legal e eficiente, ponha este grande
leme em mãos firmes e competentes, e nos reintroduza nos países civilizados,
dando-nos segurança, paz e esperança: pois esta está cada dia mais ralinha.
Que Deus nos ajude!
Que Deus nos ajude!