Que os opostos se atraem, não tenho dúvida, mas compensa essa
teimosia? Semanas atrás, conversei com uma mulher inteligente, divertida, com
mais de 60 anos e três casamentos nas costas. Ela me disse que até hoje sente
falta do primeiro marido, com quem tinha afinidades infinitas e viveu uma
relação sólida e longeva. Lamenta ter abandonado esse casamento para sair atrás
de aventuras, pois, segundo ela, não adianta querer inventar: Gambá gosta de
gambá, elefante gosta de elefante, é assim que os pares funcionam.
Tenho visto muito gambá com coelho, gaivota com jacaré, urso
com leopardo, e o resultado dessas parcerias é um misto de excitação com
frustração. O diferente nos desafia, mas também nos cansa. É comum nos abrirmos
para esse tipo de arranjo quando somos jovens e propensos a viver
perigosamente, mas vamos combinar que, depois de tanta batalha para encontrar o
amor ideal (supondo que ele exista), melhor encurtar o caminho e se contentar
com o óbvio: girafa com girafa, morcego com morcego.
Acredito que alguém que gosta de ler pode se entender com
aquele que não gosta, que quem acorda cedo pode se dar bem com quem dorme até o
meio-dia, que quem é viciado em esportes pode se encantar por um sedentário –
mas um desacordo por vez. Reunir todos esses antagonismos num único casal é
provocar o destino. Não tem como ele sorrir para uma dupla de desajustados.
Eu já arranquei o adesivo “vive la diference” do vidro do meu
carro. Agora quero seguir viagem com quem celebra as semelhanças.
Em se tratando de amigos, colegas, ídolos e outros que
compõem o elenco das minhas relações, a diversidade de ideias e de gostos me
atrai. Mas para dividir comigo o volante, intimamente, melhor evitar duelos.
Que nós dois gostemos de estrada. Que nós dois gostemos de dormir à noite.
Que
nós dois gostemos de sexo. Que nós dois tenhamos uma visão aberta da vida, sem
posar de donos da verdade. Que nós dois gostemos de música boa. Que nós dois
gostemos de ir ao cinema. Que nós dois não precisemos de muito luxo para ser
feliz. Que nós dois gostemos de conversar um com o outro. Que nós dois gostemos
de praia. Que nós dois gostemos de natureza.
Que nós dois gostemos de Londres.
Que nós dois gostemos de rir. Que nós dois não sejamos preconceituosos. Que nós
dois tenhamos consciência de que estamos aqui de passagem e que é preciso
aproveitar esse instante. Que nós dois não sejamos carolas nem apegados à dor.
Que nós dois sejamos cuidadosos um com o outro, amorosos um com o outro. Que
nós dois sejamos honestos. Que nós dois saibamos fazer uso moderado das redes
sociais. Que nós dois não sejamos reféns de grifes, mas tenhamos bom gosto. Que
nós dois gostemos muito de vinho.
Gambá com gambá.