Olho para essa menina que já fui, e
sorrio.
Aposto como, nem de leve, ela podia imaginar
a mulher que me tornei. Percebo que ainda temos os mesmos olhos, embora agora
estejam mais cansados.
De vez em quando faço isso, volto ao meu quintal ancestral... às vezes gosto, às vezes não, de ver a passagem do tempo.
Mas não conto a ela, tão pequena, tão doce,
desse meu possível endurecimento.
Não por proteção,
mas por delicadeza.
A menina que já fui olha para mim como se eu fosse uma verdade metafísica. Não sou.
Talvez ela é que tenha sido, mas não tem
importância, porque uma coisa é certa, e essa eu conto à ela: não fiquei só
sentada ouvindo as histórias dos outros...
Fui, e vivi.
E tenho tido tanta coisa para contar...
(Solange Maia)