Durante todo um maravilhoso e bem desfrutado período que
começou na adolescência e durou até pouco tempo atrás, fui o que chamo de
regalinho de Deus: magra e peituda. Mas, uma hora essa festa acaba, e a isso
chamamos de “35 anos”.
O combalido metabolismo desiste da Fórmula 1 e decide ir
brincar de carrossel no parque da Mônica.
Um processo intenso, urgente e cruel de embarangamento
simplesmente começa. O peito, antes apontado como uma lança certeira, agora
flerta, um tanto cabisbaixo, com as laterais. E o braço, sem aviso prévio,
começa a caminhar a passos largos para a realidade um tanto disforme da roliça
tia Cidinha.
Claro que algumas mulheres começam a correr loucamente,
malhar alucinadamente, fazer detox orgulhosas (já percebeu que a pessoa que
come lasanha de abobrinha se acha melhor que as outras? Tem o médico sem
fronteira e tem a pessoa que come quinoa real com filetes de frango Korin, pau
a pau ali na generosidade para com as mazelas humanas alheias) e postergam a
lambança.
Algumas juram que mantêm o abdômen do Neymar apenas bebendo
água com meio limãozinho espremido, mas ficam com aquelas vozes escrotas de
pato com rinite. Outras, sortudas e com pouco sangue italiano no tríceps de
polenteira, simplesmente não rolam como tatus-bolas tímidos pela ladeira abaixo
da maturidade estética. Mas a regra é: fez 35, pode fazer “invite all” no Face
para a “partida do colágeno”.
Antes, comer um pudim na hora do almoço significava apenas
ser feliz. Agora, significa conviver com uma terceira bunda que se forma na
lombar. Um lordo que confunde os observadores de cofrinhos, pois como pode vir
uma bunda acima do rego?
Antes, degustar uma oleosa pizza de jantar significava apenas
celebrar a vida com certa preguiça gastronômica. Agora, quer dizer que algumas
pessoas da TAM vão te olhar carinhosamente na fila de embarque, pois gestantes
merecem tratamento especial.
Antes, um namorado te chamava de chatinha e já era motivo pra
você emagrecer 12 quilos só de pensar na ofensa. Agora, eu acho que se eu
chegar em casa e pegar meu marido fazendo ménage com anões besuntados em mel
orgânico, eu posso sofrer um ataque cardíaco, mas não sofro o abatimento de
míseros dois gramas.
Antes, ia dando fim de tarde, eu só pensava em sacanagem.
Agora, eu só penso em pão. Comer com a mão. Meter ali um queijo. Talvez queijos
variados, untados pelo santo requeijão. Exatamente às 18h45, a boca do meu
estômago se arregaça como a bocarra de uma cobra antes de devorar um bezerro.
Estou alguns quilos acima do peso, segundo um nutricionista e
um teste Capricho que fiz há 20 anos.
Nada demais, caso eu não sofresse dessa vulgar e fútil
melancolia, caso eu não tivesse esse histórico interestelar de ter sido uma
garota “regata PP”.
E pensar que eu via as Nenas, as Cidas e as Rosanas em
restaurantes, usando camisas de manga “três quartos”, e pensava: tá escondendo
o muque flácido e inchado, né minha senhora? Agora sou eu.
Outro dia, tiraram uma foto minha deitada num sofá (os braços
espalhados, duplicando o diâmetro da desgraça) e me marcaram e eu demorei dois
dias pra entender que não era um novo aplicativo de embarangar do iPhone, era o
tempo mesmo.
Antes que venha algum mimimi de gente boazinha falando que
este texto é preconceituoso ou faz apologia a algum comportamento destrutivo perante
os jovens ou tem mensagens subliminares de apoio ao nazismo estético, quero
concluir dizendo que estou redondamente feliz e saudável. Apenas sou cínica e
ocupada demais pra resolver isso na academia, então prefiro ficar reclamando
num texto, enquanto como.