"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

sim, senhora!


Quando uma mulher chora numa briga, e sempre chora primeiro, parece que já vem chorando, parece que já estava chorando antes, a discussão muda de lado e o homem perde a disputa, mesmo que tenha razão, mesmo que a justiça esteja ao seu favor.

A gangorra pende ao lado mais fraco do momento. Ele será obrigado a abandonar seus argumentos e oferecer colo, será condicionado a descer o tom de voz e abraçar e confortar e buscar conter a choradeira com palavras de ânimo.


Já é complicado xingar uma mulher, xingar uma mulher chorando é impossível. Chorar é pôr óculos para a alma enxergar. Toda agressão verbal pós-choro é covardia.


Mas a mulher encontrou a proeza de ganhar discussões de relacionamento também no telefone, no momento em que as lágrimas são virtuais.


Sem a vantagem dos olhos nos olhos, ela cavou um truque invencível à distância.


É sua mania de bater o telefone na cara. 


Você está explicando o motivo de sua irritação, ela fica ofendida com uma frase e desliga sem piedade.


Você, no começo, acredita que foi problema na telefonia ou de bateria, não percebeu que significou o fim consciente da linha, e retorna a ligação desesperadamente, até cansar a luz da tela do celular.


Necas de atender.


Feito o inferno. Qualquer homem perderá a paciência. É insuportável receber um corte de repente, é como suspender o microfone no meio de um discurso para cem mil pessoas.


É uma falta de educação que enerva. Quebra as palavras ao meio, desmonta o pique da argumentação.


Depois é custoso recuperar o fôlego e o ritmo emocional da conversa. Será condenado a reiniciar o Windows do pensamento, desculpando-se para poder falar, suplicando agora pela possibilidade de ser ouvido.


Ela desliga em sua cara e você que precisa recuperar o direito de se explicar. Na segunda tentativa, estará em desvantagem apesar da grosseria feita por ela. O pedido de perdão por machucá-la é um pré-requisito para refazer a negociação.


Trata-se de uma manobra espirituosa formidável, uma virada de mesa, de jogo, de campo de batalha.


As mulheres aprenderam com o sadismo das operadoras, repetindo o blecaute quando o cliente está por finalizar a reclamação, após uma hora pulando de ramal a ramal, suportando musiquinha de fundo e confirmando informações de segurança.


Bater boca com sua mulher no celular é como tentar convencer um serviço de telemarketing: não tem chance, esquece.


A arte feminina é napoleônica. Uma lenta tortura.


Ao desligar o telefone na cara, ela assume o comando da ação. Diante de sua insistência em retomar o contato, demorará a atender de propósito, com o objetivo de gerar o pânico. O homem já é ansioso por natureza para resolver a história, pois não gosta de discutir e não gostaria de desperdiçar mais tempo discutindo. Ela passa a tirar proveito da angústia da objetividade masculina, da pressa da linearidade masculina. Jamais permite que ele termine seu raciocínio ou possa se retratar.


O sujeito vai rechear de manteiga o pão que o diabo amassou. Mandará uma corrente persuasiva de SMS, whatsApp e e-mails, de modo alternado e constante:


- Atenda, é importante!

- Atenda, é urgente!
- Atenda pelo amor de Deus!

Como o homem não sabe criar curiosidade, ela retornará unicamente no fim da noite. Dirá com violência para ser breve, que não deveria nunca mais lhe ouvir, que está abrindo uma exceção. Você assina o contrato, aceita as condições abusivas e as regras de comportamento (sendo que não fez absolutamente nada).


É abrir a boca que ela desligará de novo em sua cara. Sempre que uma mulher desliga na cara uma vez, desligará mais outras e outras vezes.


O negócio é entender que não se discute com mulher, a saída é dizer “Sim, senhora” e cuidar o máximo possível para não soar debochado.