"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 19 de outubro de 2014


Temos uma decisão a tomar: eu, você, todos nós, não importa a classe social, a raça, o credo, a sexualidade. Todos somos responsáveis pelo que vai acontecer com este país: mudança para tentar melhorar, corrigir erros de rota, ou continuar caindo, perdendo, sendo isolado, marchando contra as rodas da história. O país está com a respiração suspensa, tal a gravidade do momento, da decisão que em alguns dias vai determinar nosso futuro. É momento de escutar, como se fosse um oceano, o rumor do susto, do cansaço e do desejo das gentes brasileiras, querendo algo melhor para si e seus filhos, e muitas futuras gerações. 

À situação penosa do país somam-se agora espantosas denúncias que se abatem sobre todos nós. Elas não fazem parte de outras, ainda mais sérias, que trouxeram para os denunciantes a delação premiada (que só ocorre quando tais fatos já vêm com comprovação), que correm em sigilo e mal ousamos imaginar. É de perguntar como o Brasil conseguia se manter de pé - ainda que claudicante - e como, caso não mudemos o país nestas eleições, conseguirá caminhar num solo tão pantanoso.


Temos andado em areias movediças: quem nos governava, quem queria nosso bem, quem almejava ordem, progresso, dignidade para seu povo? Parece agora que o primeiro resultado das urnas revela uma tomada de consciência de que o país está caindo rapidamente: economia estagnada, progresso parado, isolamento do mundo em geral, qualidade de vida em queda, ilusões aparentemente benfazejas desmascaradas na experiência do dia a dia, e agora em cada vez mais graves revelações. Vemos que, apesar dos inacreditáveis problemas e dificuldades, não somos indigentes morais nem ignorantes, pois aparecem sempre mais e mais cabeças pensantes em todos os recantos, reconhecendo que é preciso fazer alguma coisa definitiva e rápida para salvar o que pode ser salvo nessa confusão. 
Acomodação e inércia, virar o rosto para o outro lado, fechar olhos e ouvidos, tudo isso pode ser bem confortável; mas esse tempo passou. Já não se admitem mentiras nem credulidade: isso nos tornaria cúmplices de todos os descaminhos. A poeira da omissão e da indiferença começaria a cobrir tudo: no fim, não enxergaríamos nesse nevoeiro, que não nos deixaria respirar. Nem livres nem lúcidos, nem informados nem contestadores, pagaríamos um preço alto demais, o da liberdade e do progresso, o da estabilidade e do respeito geral neste mundo globalizado. 


A democracia é difícil, precisa de cuidados para se manter; com ela não se brinca: se formos fúteis, desligados, omissos, aos poucos ela vai sendo reduzida, limitada, disfarçada a sua falta com belas palavras e projetos enganosos. É preciso lucidez e atenção, e dura resistência: quem manda no Brasil somos nós, cada um destes indivíduos de muitas idades e jeitos, com muita ou pouca instrução, muito ou pouco dinheiro, mas todos com voz para pronunciar as palavras-chave: liberdade e mudança. Liberdade para mudar. Consciência para decidir mudar. Ser responsável pode ser cansativo, preocupante, aborrecido, tudo o que queiram; mas sem isso não poderemos nunca nos queixar da situação: a em que estamos, na vida pública ou na vida pessoal. 


Somos a soma de nossas escolhas: a frase é pesada, mas verdadeira. Claro que existem fatores como sorte, energia, trabalho, persistência, ânimo. Mas até a sorte fica impotente se não é concretizada pelas nossas decisões.
 
Temos uma semana para resolver que Brasil queremos: que educação, saúde, moradia, infraestrutura, dignidade e bem-estar. Muitos de nós já tomamos a decisão. Mesmo assim, tenho, com muitos outros, insistido nisto: olhos abertos, ouvidos atentos, escolha inteligente, visão um pouco além das nossas quatro paredes pessoais, conscientes de que este país é nosso.


A cada passo que damos, a cada trabalho que concluímos, a cada porta que fechamos ou abrimos, sobretudo nesta fase, nestes dias, na hora de uma escolha tão importante cujo efeito vai durar um longo tempo - somos nós: tantos milhões de indivíduos, que fazemos a história do Brasil.