"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

da importância do exame preventivo


(...)
Hoje vou tirar a roupa para você. Por favor, apague a luz, vamos criar um clima. Se tiver uma biritinha, me dá um gole, assim eu me solto mais fácil.

Foi assim, sem roupa, que eu descobri um nódulo no seio esquerdo. Semana passada, fui ao ginecologista. Consulta de rotina, exames de rotina, você sabe como é. Se você é homem e não sabe, preste atenção: a gente chega no consultório, conversa, conversa mais um pouco, o gineco diz a última vez que você veio aqui foi..., a gente conversa mais e ele diz vamos ali na outra sala?. Assim, um convite casual, um convite para tirar a roupa e colocar aquela camisolinha ridícula, toda aberta na frente. Então, a gente deita em uma cama, bem na beiradinha, levanta uma perna e deixa apoiada num negócio, levanta a outra e deixa apoiada no outro negócio e, pronto, você ficou de pernas abertas, exposta para o mundo e para o olhar curioso do médico. Depois, ele vem como se fosse a coisa mais normal do mundo (e é), puxa seu braço para fora da camisola, levanta, apalpa seu seio, puxa conversa para deixar você livre, leve e solta, devolve o braço, vai para o outro lado, apalpa seu outro seio, continua puxando conversa e fica ali mais um tempo. Então ele vai para os países baixos. Mas meu negócio foi em cima.

Deu a apalpada básica, devolveu o braço. Foi para o outro lado. E foi aí que senti um arrepio percorrendo toda a espinha. Entre uma conversa e outra, vi que ele começou a disfarçar. E voltava para o mesmo ponto do seio, como se quisesse se certificar de algo. Ele, tão querido, estava sério. Ergueu a sobrancelha e junto com ela meu coração deu uma batida mais rápida. Clarissa, vamos fazer um examezinho pra ver melhor essa parte aqui. E foi pra baixo. Fez o que tinha que fazer, examinou, coisa e tal, tal e coisa e eu disse: Que foi? Me explica direito. E daí veio a frase que eu não queria ouvir: é que achei um nódulo, um carocinho no teu seio. Acho que não é nada, mas vamos fazer uma eco pra ter certeza. Eu devo ter ficado mais branca que a minha brancura de nascença, pois ele disse: Não vai ser nada, não, mas vamos fazer, pois se for...

O problema é o se for, se é que você me entende. Eu sei, sei que tem muita gente sofrendo nesse mundo, eu tenho uma vida ótima, tenho uma família ótima, tenho tudo ótimo e vai ficar tudo ótimo. Sei que é até pecado pensar em besteira, sai pra lá pessimismo! Mas, olha, quando o médico diz que achou um nódulo no seu seio somente uma palavra chega a jato na cabeça e martela feito louca: câncer. Câncer de mama. Retirada de nódulo. Biópsia. Perda do seio. Radioterapia. Quimioterapia. Perda de cabelos. Sei que é futilidade pensar nessas coisas, pode me bater na cara, mas tenho esse lado fútil, me desculpa, mas duvido que você não pense assim. Conheço muita gente que teve câncer, que lutou contra essa doença maldita e teve uma força filha da puta, uma força animal, uma força violenta. Mas me dá licença só agora, só nesse minuto, eu preciso ser fútil nesse momento: estou com medo. E o medo faz a gente pensar merda. Faz a cabeça viajar e ir até a loja de perucas mais próxima e pensar: será que tem alguma que combina com a cor da minha pele?

(...)
Acho que qualquer mulher fica bem nervosa quando descobre um nódulo, ainda mais quando não tem maiores notícias. Largam uma bomba na sua mão: é um nódulo, te vira. Mais pra frente a gente descobre o que é. Mas e enquanto a bomba está na sua mão, o que você faz? Joga pra cima? Se abraça na porra da bomba? Finge que não tá havendo nada? Bom, o que eu posso dizer é que desde quarta-feira isso não sai da minha cabeça. Meu sono está estranho, não consigo me concentrar direito no trabalho, não consigo escrever direito, meu pensamento vai e vem e eu penso meu Deus, tenho tanta coisa pra viver ainda, tenho minha família, minha cachorra, minha casa, meus sonhos, meus livros, meu amor, meus sobrinhos, meu pai, mãe, irmão, cunhada, amigos, tenho umas contas pra pagar, tenho a filha que quero ter e nem tive ainda, meu Deus, tomara que seja só uma glândula, um nódulo do bem, um cisto legalzinho. Uma coisa boa. Por favor, me manda uma coisa boa. Só o que peço.

Por enquanto, fico aqui com esse aperto na garganta e essa sensação de interrogação no peito (esquerdo, no caso). Torce por mim.

[a história é real e pode acontecer com qualquer uma de nós... Mamografia: eu faço!]


        
Outubro chegou e como em todos os anos o rosa irá predominar nesse mês. Tudo com um objetivo: conscientizar a mulher da importância do diagnóstico precoce do câncer de mama.



O câncer de mama é uma doença grave, mas que pode ser curada. Quanto mais cedo ele for detectado, mais fácil será curá-lo.
Se no momento do diagnóstico o tumor tiver menos de 1 centímetro (estágio inicial), as chances de cura chegam a 95%. Quanto maior o tumor, menor a probabilidade de vencer a doença. A detecção precoce é, portanto, uma estratégia fundamental na luta contra o câncer de mama.
Se a detecção precoce é a melhor estratégia, a principal arma para sair vitoriosa dessa luta é a mamografia, realizada uma vez por ano em toda mulher com 40 anos ou mais. É a partir dessa idade que o risco da doença começa a aumentar significativamente.
A mamografia é o único exame diagnóstico capaz de detectar o câncer de mama quando ele ainda tem menos de 1 centímetro. Com esse tamanho, o nódulo ainda não pode ser palpado. Mas é com esse tamanho que ele pode ser curado em até 95% dos casos.