terça-feira, 17 de dezembro de 2013
inventário
Que minha vida não mereça uma biografia
Que vidas ficam duras
Quando postas no papel
Que minha marca fique nas coisas voláteis
Na lembrança de um cheiro
No aroma que vem da cozinha
No suor de moça que dança
Que minha memória fique em coisas apenas levemente tangíveis:
A pluma dentro do travesseiro
Um instante de um abraço
Uma bola de sabão
Que minha história fique nas coisas etéreas
No carinho que recebi
No amor dedicado àqueles que amei
Na retina de um olho que brilha
De concreto, concreto mesmo
Quero apenas o registro
Da matéria impalpável com que se organiza o som
Que haja música!
(Flávia Ferraz)