"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 15 de maio de 2013

crônica de uma tensão


Quando eu tinha dez anos fui ao banheiro e chamei minha mãe. Tinha ficado menstruada. Não me assustei, afinal, ela já tinha me explicado todas aquelas coisas. Não gostei muito dela ter espalhado para as amigas que eu tinha "virado mocinha", mas tudo bem, é coisa de mãe. Mães gostam de envergonhar a gente de vez em quando (vai dizer que sua mãe nunca mostrou fotos horrendas da adolescência para seu novo namorado?).

Tudo ia quase bem. Apesar de ter me sentido de fralda usando meu primeiro absorvente, me senti adulta. Adorei contar para todas as amigas que tinha ficado semi adulta. Adorei usar a desculpa do estou-muito-indisposta durante anos e anos para os professores de educação física. Minha mãe disse que eu poderia sentir cólica, como de fato senti. Ela só esqueceu de me contar sobre a TPM.

Tenho uma TPM violenta. Normalmente, sigo dois caminhos: viro uma brucutu irritada e braba ou viro uma molengona sensível que chora até com o bom dia do porteiro. É bem difícil. Começa uns 7 ou 8 dias antes do dia M (menstruation day). Peitos ficam sensíveis e do tamanho do Corcovado, cólicas infernais me assombram, fora o humor que fica dando piruetas all the time.

Quando eu morava em casa era tudo simples. Xingava minha mãe e pronto. É, é natural que a gente solte as patas em quem está mais próximo. Então, comecei a namorar. E continuei dando coices na minha mãe (coitada, ela sofreu por muitos e muitos anos). De vez em quando ela perguntava e-ai-ela-te-maltrata-antes-daqueles-dias? E ele dizia que não. É claro que não. Como você vai espantar namorado novo? O problema é que o namorado novo uma hora vira namorado velho. E namorado velho, sabe como é, é que nem calcinha antiga: já se acostumou com você. Por isso, a gente é o que é, sem filtro. Passei a mostrar meu lado negro, o que deixou ele meio confuso. Como pode aquela mulher legal, divertida, carinhosa ser tão bruxa? Podendo. Na TPM a gente vira bicho.

Namorar na TPM é fácil. O problema é morar junto na TPM. Dividir o mesmo teto quando o teto parece desabar em cima de você. É duro. Tudo irrita, incomoda e atormenta. O que é uma coisa simples vira um acontecimento. Nos dias normais eu nem noto se o tapete do banheiro está torto ou não. Se a torneira ficou bem fechada. Se o tubo de pasta de dente ficou apertado no meio. Se o copo sujo ficou em cima da mesa. Se o chão tem pingos. Se eu que pego a correspondência. Se eu troco a água da cachorra. Se eu que tiro os pratos da mesa.
Mas na TPM parece que tudo se desmonta:
- Você deixa a porra do tapete torto sempre!
- Fecha a merda da torneira, pô!
- Por que você aperta a pasta no meio? Que saco!
- Olha o copo sujo, eu lavo tudo sempre e você não faz nada!
- Não sabe mirar o xixi?
- Eu sempre busco a correspondência, eu sempre troco a água, eu sempre tiro os pratos, eu sempre faço tudo e você nunca ajuda em nada!

É um horror, uma guerra.
Na TPM tudo vira uma coisa maluca. No meio da enxurrada de palavras, alguma coisa sopra no meu ouvido: sossega. É uma fase. Essa não é você. Então eu sorrio. E depois começo a chorar.

(E no outro mês tudo recomeça.)