"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 26 de novembro de 2011


Solidão é escutar a casa do outro como se fosse a sua.
Na hora em que atinge esse ponto, esteja certo: você conheceu o isolamento perfeito.
Um isolamento físico e mental.
Um isolamento de mangueira de chuveiro.

Você descobriu que não tem amigos.
Você descobriu que o mundo é um segundo ventre, e não existe cesariana.
Você descobriu que não tem passado, o que é muito mais grave do que descobrir que não tem futuro.

Você dorme e toma emprestado o despertador do vizinho.
Não que a parede seja fina entre os imóveis, a sensibilidade da audição triplicou com o vazio.
Nada lhe resta senão obedecer ao relógio.
Como uma criança deitada na classe aguardando o sino da escola.

Você bebe qualquer som.
Consegue identificar o motor da geladeira, coisa que nunca reparava.
O que é longe é perto.
No fundo tanto faz a distância, não tem nenhum lugar para ir, nem vontade de ficar.

Ao andar pela sala, vê a necessidade de trocar o forro das almofadas, de arrumar infiltrações no teto, de corrigir o mau contato do abajur.
Mas não tem vontade de consertar a vida.
O conserto exige esperança.

Você se julga morto.
O café é chá, a sopa é suco, a segunda-feira é feriado, a terça é sábado, a quarta é domingo, a quinta é paralisação, a sexta é greve geral.

Você está no apartamento alheio mais do que no seu próprio apartamento.
Porque nada acontece em seu domínio.
O estranho do 302 é quase um colega de quarto, um irmão emprestado, a pessoa mais próxima da história recente.

O interfone do vizinho apita e corre para atender, ansioso por algum resgate.

Você não encontra o que falar consigo, e antes reclamava da falta de assunto com a esposa.
Você não suporta dormir pelo excesso de quietude, e antes lamentava a algazarra dos filhos.
Você não tem o que pensar, já conhece seus pensamentos de cor, se acha um livro lido e previsível.
Está no ponto de puxar conversa quando alguém liga por engano.
É capaz de discar o 190 para lembrar onde mora.
Ninguém pisa em seu capacho, formado por cartas, contas e propagandas.

Solidão é estar absolutamente entregue ao ouvido, todo ruído do lado de fora soa como de dentro.
Um morador puxa a descarga e você corre ao corredor jurando que tem companhia.
É ouvir passos na escada e confiar que foi na sua sala.
É ouvir um grito abafado na rua e disparar para a cozinha.
É sofrer um susto atrás de outro sem motivo.

Solidão é acompanhar um por um dos seus batimentos cardíacos.
Enquanto o monitoramento é distraído, tudo bem.
Na hora em que você começa a contar, esteja certo: você enlouqueceu.

O nome disso é desemprego.

Título do texto: Santo Expedito
(deve ser porque ele é invocado em muitas situações assim).

A quem interessar possa:

Expedito era comandante-chefe da XII Legião Romana,
aquartelada na cidade de Melitene, no final do século III
e tinha uma vida devassa.
Quando estava para se converter, apareceu-lhe um espírito do mal, na forma de um corvo, grasnando: “Crás”, que em latim quer dizer: “Amanhã”.
E provando que se transformara em um bom Soldado de Deus, Expedito reagiu energicamente esmagando o corvo com o pé direito e esbravejou: “Hodie”, que em latim quer dizer: “Hoje”.

Por isso, Expedito ficou conhecido como o Santo que resolve os problemas com rapidez,
o “Santo da Última Hora”, ou seja, o “Santo das Causas Urgentes”.

As imagens de Santo Expedito apresentam-no com traje de legionário,
vestido de túnica curta e de manto jogado militarmente atrás das espáduas com postura marcial.
Em uma mão sustenta uma palma e na outra uma cruz que ostenta em letras visíveis a palavra “Hodie”,  
em referência ao episódio do espírito do mal, que surge para adiar sua conversão.
Calca com o pé vitorioso um corvo que se consome lançando seu grito habitual.

Santo Expedito é o protetor dos jovens, dos empresários, dos negociantes e do desembaraço dos seus negócios, dos viajantes, dos navegantes e das pessoas que mexem com computação e internet.

Há quem acredita...