"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 20 de junho de 2011


Ninguém precisa de interlocutor que fala cuspindo e termina a conversa com todos os seus perdigotos depositados sobre a cara alheia.

De quem tem certeza de que sua vida e predileções são o norte da civilização.
Da mistura de esnobismo e babaquice que resulta no diagnóstico: cerveja é bebida de pobre.
De sexo tântrico, pilha fraca no controle remoto, conversa de elevador, bafo matinal, ovo mexido seco.
De espertinho que anda pelo acostamento quando a estrada está cheia e ainda buzina pra abrir caminho.

Ninguém precisa de cidadão que maltrata garçom.
De gentinha preconceituosa, tão tacanha que desconhece que preconceito apenas denota ignorância e tosquice.
De quem frequentou a escola e, mesmo assim, escreve “agente fazemos”, “talves dá certo”, “derrepente”.
De seres que ouvem música, qualquer que seja, no volume máximo sem se dar conta que ouvido alheio não é pinico e que vizinhança não é palco.
De gente que vive de herança e jamais ouviu falar em trabalho.

Ninguém precisa de perua que gasta mil reais em um par de sapato mas acha demais dar dois reais para o moço que carrega suas compras no supermercado.
De pessoinhas que dizem que amar animais e defendê-los é atitude de quem não se importa com crianças abandonadas ou algo “mais importante”.
De homem que paga qualquer coisa—um drinque ou um colar de pérolas—para uma mulher e pensa que isso dá o direito de agarrá-la, afinal o “pedágio” foi quitado.

De quem palita os dentes à mesa—e fazendo barulho.
De botox.
De absorvente com estampa.

Mas para aguentar tudo isso, preciso de um drinque.
Constantemente.