"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 30 de agosto de 2010


A procura e a paranóia da mulher perfeita

Sempre namorei mulheres perfeitas. Aliás, sempre só me interessei por mulheres perfeitas. Nada mais, nada menos que isso. De um jeito ou de outro, você vai ver que todo macho vive nessa busca.

Toda mulher com a qual eu tentei me envolver era perfeita de alguma forma. Sua coleção de defeitos (que todos nós temos), fossem eles físicos ou psicológicos, somente somavam ao conjunto. Um dente quebradinho, um riso não exatamente atraente, eventuais celulites, barriguinhas - tudo isso pra mim eram só características. Traços totalmente negligenciáveis se você realmente tem tesão e gosta da pessoa.

Mulher é um bicho paranóico. Não existe uma mulher viva que esteja satisfeita com seu peso. Sempre poderiam emagrecer um ou dois quilos aqui ou ali. Poderiam ter a perna mais grossa, a bunda menor, ou os seios de algum outro tamanho. Tem mulher que, por vergonha do próprio corpo, até prefere transar na total escuridão (ou não transar!!!) a se expor ao macho entre quatro paredes.
No meu dicionário isso se chama: Besteira.

Se você namora, divide ou freqüenta a cama com um macho superficial e que não gosta de você e nem te merece, parabéns, você pode e deve entrar em pânico. Isso mesmo, deixe que suas paranóias de imperfeição queimem todos os fusíveis da casa e da sua cabeça. Só não vale usar velas como pretexto de que assim fica mais romântico, tá?

Eu, macho profundo, nunca tive problemas com as características físicas e nem com uma eventual variação do peso da locatária do meu peito e companheira de alcova. Sempre - como a maioria dos machos que conheço - saí com mulheres que preferiam mudar algo em seus corpos, se pudessem. Vale dizer que nenhuma das características físicas das moças em questão nunca me levou a desistir delas ou da relação. Se você conhece alguém que desistiu, pode procurar direito por que há outro motivo, um motivo real para a tal desistência. Não foi pelo tamanho da sua bunda.

No meu mundinho de macho que realmente gosta de mulher, o conforto de algumas de vocês com seus próprios corpos sempre me encantou. Existem poucas coisas mais lindas no mundo do que uma mulher nua, tranqüila em estar assim. Ela sabe que não é (e nem precisa ser) um modelo de perfeição, ao mesmo tempo que sabe que não estou ali só pelo corpo dela. O corpo é bônus, é valor agregado.

Anos atrás, tive uma namorada que implicava com uma celulite que teimava em aparecer no lado interno de sua coxa esquerda quando ela sentava. Nem eu nem ninguém nunca reparou na celulite, e muito menos eu deixei de amá-la por causa disso. Nunca consegui ver isso como um defeito nela. Séculos depois, penso docemente naquela celulite como uma das coisas que fazia dela única e tão especial.

Essa mesma namorada tinha paranóias com o peso totalmente aceitável e bem distribuído que tinha. Eu juro que nunca sabia se ela tinha ganhado ou perdido uns quilinhos, pelo fato de que isso não fazia a menor diferença. Lembro, aliás, que só mesmo notava se a pseudobarriguinha (não era uma pança, como ela achava) tinha ficado um pouquinho mais ou menos atrevida quando eu tinha minha cabeça presa entre suas pernas. Sempre fui um homem de detalhes, mas o detalhe que a superficialidade de muitos nunca notaria é que acima de tudo - acima da admiração, respeito, cumplicidade - eu a amava. O resto sim, era detalhe.

Mais vale um olhar que derrete o homem que não ter exatamente os seios ainda totalmente empinados. Mais vale um ótimo senso de humor, do que a presença de umas celulites. Um amigo meu, casado e feliz, é que diz: "se não tem celulite, não é mulher", e olha que ele dizia isso mesmo quando era um solteiro e guerreiro dos mais ativos. Macho de primeiríssima linha!

Ninguém vai pra cama com alguém para achar defeitos no corpo do outro. Com o tempo, é inevitável que apareçam certas marcas. Nele, a quantidade de cabelo pode não ser mais a mesma, a cintura pode ter aumentado, os pneuzinhos podem estar se instalando. Nela, as dobras podem ter virado curvas, a cinturinha também já não é mais a mesma, umas estrias ensaiam aparecer. Tudo normal. A maturidade também deveria trazer um conforto maior com o próprio corpo, mas alguns de nós nunca cresce, não é?

Transar no escurinho, à meia-luz, pode ser maravilhoso, só não faça disso uma exigência pelos motivos errados. Se por algum detalhe você se solta mais com pouca luz, acha mais interessante ver seu macho na penumbra, tudo bem. Não achem também que estou fazendo propaganda de holofotes! O escuro pode ser melhor simplesmente porque aguça seus outros sentidos, tirando a visão do seu rotineiro torno, fazendo com que seu corpo todo fique ligado no momento.

Se a força da gravidade (que é mulher e não perdoa) te incomoda, resolva-se com ela. É coisa de mulher contra mulher. Macho que é macho quer uma mulher perfeita. Quero (e ainda procuro) uma mulher assim, cheia de defeitos e detalhes que eu ame ou nunca me incomode em reparar.
Esteja a luz ligada ou não.

(André Debevc)