“A lua, dali era possível ver, estava do
outro lado da casa, descendo atrás da mata. E de repente, como nunca mais
conseguira ver, desde criança, embora me esforçasse, mas tinha perdido aqueles
olhos, inesperadamente consegui enxergar outra vez são Jorge de lança em punho,
matando o dragão na superfície da lua.
Fiquei ali sentado, ouvindo. Dulce cantava
novamente aquelas canções desconhecidas. Além da lua, as estrelas e coisas
assim, do espaço sobre nossas cabeças, percebi que falavam também de seres da
terra, escondidos entre as árvores, na fundura das grutas, nas curvas dos
caminhos.
Ela disse:
- Força e fé, repete comigo: dai-me força e
dai-me fé, dai-me luz.
Eu pedi:
- Força e fé. Dai-me força, dai-me fé e
dai-me luz.
Dulce perguntou se eu queria cantar junto com
ela. Disse que não, eu preferia ficar ouvindo. Eu não sabia cantar, expliquei.
No mesmo momento, sem ouvir o que ela dizia, e talvez não dissesse nada, apenas
cantasse, uma estrela cadente riscou o céu. Pensei em fazer um pedido, era meu
aniversário. Mas não tinha nada para pedir. As coisas vivas, pensei, as coisas
vivas não precisam pedir”.