“Às vezes é preciso recolher-se. O coração não
quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma
vez resolve sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um
começo de sabedoria, e dói.
Dói controlar o pensamento, dói abafar o
sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem
hoje se ausenta era tão imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida,
amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes
aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só
o que nos resta.
Entramos no casulo fabricado com tanta
dificuldade, e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados, quem já não
nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia
de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou,
se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e
mutação, este silêncio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os
seus acenos.”
O “nuvensdealgodão” estreou no dia 23 de
março de 2010 e, no dia 24, esta foi a primeira publicação que fiz de um texto da Lya
Luft.
Desde então, praticamente todas as semanas
tinha um texto dela no blog.
Eu gosto muito do que ela escrevia. Vou sentir falta.
Segundo Martha Medeiros, outra campeã de postagens
do blog, quando André, filho da Lya faleceu, Martha foi até ela.
Ao lado do caixão, Lya a olhou e disse,
daquele jeito sem meias palavras: “Martha, a morte é uma merda”.
É verdade, Lya. A morte é mesmo uma merda!
RIP ❤