"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

 


Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas.

 

Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói.

Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.

 

Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico.

Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta.

 

Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar.

 

Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silêncio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.

 

O nuvensdealgodãoestreou no dia 23 de março de 2010 e, no dia 24, esta foi a primeira publicação que fiz de um texto da Lya Luft.

Desde então, praticamente todas as semanas tinha um texto dela no blog.

Eu gosto muito do que ela escrevia. Vou sentir falta.

 

Segundo Martha Medeiros, outra campeã de postagens do blog, quando André, filho da Lya faleceu, Martha foi até ela.

Ao lado do caixão, Lya a olhou e disse, daquele jeito sem meias palavras:Martha, a morte é uma merda”.

  

É verdade, Lya. A morte é mesmo uma merda!

RIP