"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 29 de novembro de 2017



“O tempo, se não sabes deverias saber, apenas se mede em suspiros. 
Há quanto tempo deste o teu último?”

Pedro Chagas Freitas

“Somos o que ficamos depois de sofrer.

Porque na dor encontramos uma honestidade que não há em nenhum outro sentimento.
Porque na dor encontramos uma urgência que não há em nenhum outro lugar.
Porque na dor encontramos uma autenticidade que não há em nenhum conselho.

Ninguém usará disfarces, adiamentos, mentiras quando sofre. 
É quando nos conhecemos, nos aceitamos e passamos a amar as pequenas gentilezas e descobertas.

Somente aquele que cuidou de um pai ou mãe doente entenderá o que é ser filho.
Somente aquele que se separou ainda amando entenderá o que é casamento.
Somente aquele que perdeu um parente numa tragédia entenderá o que é fé.
Somente aquele que foi mendigo em sua casa entenderá o que é generosidade.

Sofrer é entender a si mesmo para ouvir com mais atenção e empatia.

Por mais angustiada que seja a perda, 
por mais gritante que seja a separação,
por mais inimaginável que seja a injustiça, 
temos uma incrível e maravilhosa capacidade de sobrevivência, de se regenerar, de despertar das ruínas, de seguir em frente.”


E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores? 
Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.” 

Mateus 9:11-13

quinta-feira, 23 de novembro de 2017


“Descobri que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes, maior o nosso próprio bem-estar.”

\ Dalai Lama /


Desde quando me lembro, família tinha para mim uma importância extraordinária. Meu pai a considerava muito. Era a árvore, com raiz e galharia, com sombra, com tempestade, ramos caindo, raios atingindo, mas estava ali, a velha árvore. Eu, menina intrometida, de orelhas em pé ouvindo conversas adultas, pois durante alguns anos fui a única criança na casa, absorvia aquelas tramas, dramas, comédias, e coisas ternas e alegres que passavam como fios de teia de aranha entre tantas pessoas.

Eu adorava os almoços: avôs, avós, tios, tias, primos, primas. Aquilo me dava uma extraordinária sensação de proteção e pertença. E tudo se refletia num grande espelho diante da mesa de jantar. Também me fascinavam - não foi por nada que décadas depois comecei a escrever sobre laços familiares, embora nada a ver com aquela minha família - as conversas e posturas, que em qualquer grupo podem passar da inocência à bizarrice. Sentada à mesa, tendo de me esticar para manejar os talheres, embora posta sobre almofadas, com as perninhas balançando no ar, mais do que comer ou beber meu suco, eu espiava as pessoas.

Tomava um distanciamento involuntário, que me divertia e assustava: as pessoas pareciam salsichas enormes, com tufos de cabelo em cima, buraquinhos com olhos dentro, que giravam, outro buraquinho que se abria e fechava para receber comida ou soltar palavras. Ali aprendi que palavras podem ser plumas ou punhais - e que significam muito mais do que aquilo que expressam. Que uma inflexão muda o sentido, de amoroso para crítico; e que as mãos complementam tudo, com arabescos bailarinos por cima dos pratos.

Talvez tenha nascido assim meu encanto pelas palavras, pelo que dizem nos sons ou letras, e mais ainda nos espaços brancos ou silêncios. Ou isso simplesmente veio comigo como a cor dos olhos e dos cabelos, um sinal qualquer. Para mim, foram sempre motivo de felicidade, palavras como balas de tantos sabores e cores, ou pedrinhas coloridas que eu revirava na boca como se fossem pitangas ou uvas.

Sou uma mulher das palavras, e família tem entre elas um lugar especial: mais do que dissidências, importam as semelhanças; mais do que contradições, reinam os encontros; mais do que as ausências, predominam os gestos, as vozes, ou os sinais num WhatsApp. Uma dor por mal-entendidos pode ser curada com a palavra certa; uma ilusão alegrinha pode virar ferida, mas a gente nunca tem certeza...

Esse berço, esse colo ou esse peso chamado família pode magoar, irritar e salvar se tivermos a sorte de nascer num grupo amoroso. Nas horas mais escuras, essa rede pode nos impedir de cairmos no alçapão embaixo do poço. Nada como lembrar brincadeiras infantis entre irmãos, carinho de pais abrindo a porta com braçadas de orquídeas, dessas pequenas meio silvestres que florescem presas aos troncos das árvores no jardim. Nada como jogar conversa fora com quem se recorda, e nada como semear recordações futuras para os que, tão jovens, ainda nem têm passado.

Não sei onde foi parar aquele grande espelho, com um raro tom rosa-antigo. Quem sabe ainda estamos lá, presos: imortalizados os momentos felizes, os risos, brindes, lágrimas - e todos nós, como éramos um dia.


“É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir.” 

Eclesiastes 5:5

quarta-feira, 22 de novembro de 2017


#dia do músico

o homem é o sexo frágil


Durante almoço em uma cantina em Erechim, cidade gaúcha quase divisa com Santa Catarina, fui surpreendido pela entrada triunfal de um grupo de terceira idade. Mais de 150 mulheres felizes, ruidosas, dançantes. Dediquei um torcicolo para elas - mereciam. Tenho torcicolo a cada quatro anos, raro como uma Copa do Mundo, e pressenti que era o momento. Deveria aproveitar e girar a cabeça com força total para não perder nenhum dos movimentos daquele exército.

Elas desfrutavam de uma alegria fora do comum: desembaraçadas e sinceras nas gargalhadas. Não havia nenhum homem para atrapalhar. E não havia nem mesmo esperando em casa. Noventa por cento da comitiva era viúva. As meninas na faixa dos 70 a 90 anos estavam livres na pista de dança.

No começo, faziam piada de que mataram os seus maridos no cansaço pouco a pouco. Os senhores foram incapazes de acompanhar a maratona amorosa.

- Tadinhos, exigíamos muito deles na subida e ficaram sem fôlego na descida.

Mas a comédia foi formando um estranho sentido. Elas provavam que a mulher é o sexo forte, e o homem é o sexo frágil. Derrubaram o preconceito com uma acachapante ilustração de vitalidade.

Os homens morrem cedo, é uma verdade absoluta. Os homens são fracos. Os homens não tem resistência. A força física é ilusória: não faz cócegas diante da força espiritual.

E veja só: homens de outras épocas, que não precisavam cuidar de casa, dos filhos, trabalhar ao mesmo tempo em que unificavam a família. Homens com a metade das obrigações femininas. Homens que não passaram por nenhuma gravidez em seu corpo, que não saíram à rua para garantir direito ao voto, igualdade em concursos públicos e salários equivalentes. Homens que não queimaram os sutiãs e não empreenderam revoluções culturais para o livre-arbítrio da mesa e da cama. Homens que não combaterem as leis e não asseguraram o divórcio. Homens que não experimentaram o desgosto da solidão e da incompreensão, homens que não enfrentaram o vexame de esconder as suas fantasias e economias da própria companhia. Homens que não passaram por nenhuma cobrança para se arrumar, para manter as unhas pintadas e a aparência impecável. Homens que não eram condenados a sorrir amarelo em público e chorar azul no quarto. Homens de aceitação social fácil e orgânica. Mesmo assim, com uma carga infinitamente menor de responsabilidade, sucumbiram antes.

Aquelas damas derrubaram todos os reis do xadrez. Aquelas damas comemoravam o casamento delas com elas mesmas. O casamento consigo. O casamento com a guerra. O casamento com a tenacidade. O casamento com a intimidade. Quem se conhece vive mais, vive o dobro, vive os sonhos para além da idade.


“Disse a anciã curandeira da alma:
Não doem as costas,
doem as cargas.
Não doem os olhos,
dói a injustiça.
Não dói a cabeça,
doem os pensamentos.
Não dói a garganta,
dói o que não se expressa ou se exprime com raiva.
Não dói o estômago,
dói o que a alma não digere.
Não dói o fígado,
dói a raiva contida.
Não dói o coração,
dói o amor.

E é precisamente ele, o amor mesmo, quem contém o mais poderoso remédio.

Hermana Águila - Ada Luz Márquez
Tradução livre

Aquele que diz: “Eu o conheço”, mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 1 João 2:4

segunda-feira, 20 de novembro de 2017


“Acima de sermos negros, brancos, árabes, judeus, americanos, somos uma única espécie.
Quem almeja ver dias felizes, precisa aprender a amar a sua espécie (...) 
Se você amar profundamente a espécie humana, estará contribuindo para provocar a maior revolução social da história.”


#dia da consciência negra

domingo, 19 de novembro de 2017


“Se eu desistir de existir, não se assuste,
é só o inicio de um novo fim.
E assim, se não nascer o sol, não se preocupe,
eu estarei dentro de ti!

Não pense que é fácil para mim
mas eu tentei, por muito tempo eu tentei.
E agora, abro mão e te juro de coração,
eu fiz de tudo para que o tudo não acabasse assim.

Espero que seja melhor, espero estar correto,
nessa vida eu não posso viver. 
Estou cada vez mais perto de sorrir, 
quando eu fechar meus olhos vou sorrir e enfim ser feliz.

É o fim, eu sei!
Um dia ele chega para todos nós,
Mas não quero esperar que aconteça.
Antes que eu me esqueça, deixe eu te lembrar,
te confortar, 
eu sei que assim vai ser melhor.”

lembrando do Dayvison, meu sobrinho, 
que não queria mais viver nessa vida.


o menino e sua mãe

                                                                                          André Luft

No dia 2 de novembro, Finados, a morte - que tudo comanda - levou um de meus filhos. André, um gigante de corpo e alma, belíssimo por dentro e por fora, morreu na plenitude da vida, fazendo o que mais amava: surfando nas águas verdes de Florianópolis, onde, embora trabalhando na África, ele e sua mulher residiam. Ainda incapaz de escrever coisas coordenadas, reproduzo aqui, para meus leitores, o trecho da página 67 de meu novo livro, A Casa Inventada, que já está nas livrarias. O menino, então com uns sete anos, era o André.

Um menino e sua mãe voltavam das compras no ônibus quase vazio. Ele segurava no colo o presente cobiçado: um microscópio “de verdade”, dado pelo pai, mas a mãe fora com ele comprar. De vez em quando, ele passava a mão no pacote:

- Parece mentira, né, mãe? - olhar sonhador daqueles olhos grandes de um azul indescritível.
- Mãe, que igreja é essa?
- Nossa Senhora Auxiliadora.
- Por que tem tanta Nossa Senhora? Não era só uma?
- É uma, sim, filho, mas ela tem muitos nomes.
- E o Nosso Senhor é São Pedro, né? Marido dela.
- Não, é Jesus. Quem se casou com ela foi São José. São Pedro era amigo de Jesus - a mãe suspirou: não praticar muita religião dava nisso.
- Ah... E por que o José não é o Nosso Senhor, se era casado com Nossa Senhora? - os olhos azuis começavam a deixar a mãe inquieta.
- Acho que é porque Jesus e Nossa Senhora são mais importantes, filho.
- Mas o José não era pai dele?
- Não era de verdade, o pai dele era Deus, José era pai adotivo.
- Então Jesus não nasceu da sementinha do José?

O silêncio no ônibus já meio vazio parecia imenso. O menino falava em voz alta e clara, pra ele era tudo natural, assim ensinavam em casa.

- Não, filho, Deus fez brotar a sementinha direto em Nossa Senhora, foi um milagre.
- Ué, então não foi como nas pessoas? - agora o silêncio podia ser cortado com faca. A mãe se fez de distraída, mas o menino pensava, concentrado.

- Mãe, como é que antigamente as primeiras pessoas sabiam como se fazia pra ter bebê, se ninguém tinha ensinado a elas?
- Ora, filho, essas coisas a natureza ensina.
- Mas a natureza não é pessoa pra ensinar a gente.
- Quer dizer, quando a gente cresce, aprende por si.
- Mãe, olha, nessa placa estava escrito Rua Mozart! Eu acho que ele mora aqui!
- Ele quem?
- O Mozart, mãe. Quem ia ser?
- Não, filho, ele viveu na Europa.
- Ah é? Até achei que era nos Estados Unidos, onde moram pessoas importantes.

Finalmente desembarcaram. Parado na calçada, sol nos cabelos claros, o menino retomou seu ar sonhador ainda segurando o pacote.

- Mãe, como eu tenho um pai bom, né?

E acrescentou depressa:

- Mãe também, claro...


O rico domina sobre o pobre; quem toma emprestado é escravo de quem empresta.

Provérbios 22:7

sábado, 18 de novembro de 2017

lá e aqui


A Operação Lava-Jato e a campanha das mãos limpas na Itália se parecem em poucos pontos, mas são pontos fundamentais. As duas começaram com cavaleiros destemidos dispostos a combater a corrupção em seu país - o procurador Di Prieto lá, o juiz Moro aqui. Nos dois casos, algumas leis foram, digamos, dribladas para tocar os processos. Moro levou ligeira vantagem sobre Di Prieto no quesito fins que justificam meios.

O terremoto provocado pelas revelações das mãos limpas, que derrubou partidos, carreiras políticas e reputações na Itália, não teve contrapartida exata na Lava-Jato. Aqui os partidos ficaram de pé - só em crise de identidade, sem saber bem o que são e com quem podem se juntar - e carreiras políticas não apenas sobreviveram ao bombardeio da Lava-Jato como estão conseguindo enfraquecê-la. Não demora e a faxina moral duradoura que a Lava-Jato prometia ao país não passará de nostalgia. Lembra do Moro? E pensar que um juiz de província quase liquidou a República...

Na Itália, houve suicídios de envolvidos em escândalos denunciados pelas mãos limpas. Aqui o único suicídio provocado pela Lava-Jato foi o de um inocente injustamente acusado.

O que as mãos limpas e a Lava-Jato têm indiscutivelmente em comum é que, na busca por uma moral absoluta, desnudaram mais do que esquemas de corrupção e de bandidagem corporativa, fizeram - sem querer - retratos de corpo inteiro do capitalismo de compadres em vigor nos seus países. Itália e Brasil têm a mesma história de sociedades dominadas por sistemas excludentes de poder que se fecham contra qualquer ameaça de mudança. Não cabe dizer que na Itália é pior porque lá tem o complicador da Máfia. Nós também temos máfias, que só não ousam dizer seu nome.

Na confusão política e econômica deixada pelas mãos limpas na Itália, brotou, como um cogumelo venenoso, o Berlusconi. O Moro é o nosso Di Prieto, a frustração com as mãos limpas é a frustração com a nossa Lava-Jato derrotada, o capitalismo viciado da Itália é o nosso capitalismo mafioso... Resta a grande questão: quem será o nosso Berlusconi?



Daqui a pouco o ano termina. Com a ida dele, chega a expectativa. O desejo de fazer diferente, a vontade de modificar o que não está legal, a ânsia de crescer e abraçar todos os planos do mundo. Finais de ano servem de balanço, de balança. A gente vai e vem, o pensamento viaja, o coração faz retrospectiva, a memória guarda o que foi bom e tenta passar a perna na parte amarga. A gente pesa os lados positivos e negativos, sorrimos ao perceber que fizemos a coisa certa, choramos ao lamentar o que saiu do eixo.

Não tem jeito: todo fim de ano é a mesma coisa. Uns riem, outros choram, alguns riem e choram. O que importa no fim das contas é acumular experiências dentro da bagagem e ter a disposição e a força para seguir em frente. E viver uma vida mais leve, feliz e cheia de esperança.


“Vou fazer 90 anos, nunca fiz cirurgia plástica. 
Tinha uma colega que dizia que minha autoestima era grande, porque eu sempre confiei na minha cara do jeito que estava. 
Não tenho problema algum com minhas rugas. Meu rosto reflete a minha vida, a minha alma, o que amei, o que sofri... 
Eu me gosto assim.”

__Laura Cardoso, atriz            

Provérbios 11:1 
O Senhor repudia balanças desonestas, mas os pesos exatos lhe dão prazer.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017


Por dentro, sou casca de ferida, quase cicatrizada, uma lágrima fingindo ser cisco no olho, uma sessão de terapia onde foi dito apenas a metade, um medo não publicado.

Por fora, uma leveza de palavras, embora por dentro, um furacão em erupção, quase sem margens com folga, para não entornar. Por fora, uma coisa que desejo fortemente e consigo deixar fluir de um jeito suave, ah, mas por dentro, vou submergindo sem dó ou piedade, sem tempo para traduzir os desejos incontidos, subversivos e doloridos.

Por fora o resgate de ingenuidade que se repete todas as manhãs, para acreditar que a vida pode ser melhor. Por dentro, tralhas quase sem espaço. Anseios e planos encaixotados sem destinatários.

Por fora, coração. Por dentro, razão. Por fora, alegria. Por dentro, nostalgia.

Por fora, a certeza. Por dentro, o acaso.

Por fora o argumento como ladainha diária. Por dentro a pergunta que não encontra a resposta e convive carrancuda com a dúvida

Por fora, falo de liberdade. Por dentro, procuro um caminho que contrarie as incertezas. Por fora uma beldade. Uma entusiasta do amor fácil, rápido e indolor, uma saudade sem devolução que virou poesia.

Por fora, esperança. Por dentro, zoeira que a vida faz e não trata de desfazer.

Por fora, sonoridade, música. E por dentro também.
E como diz o provérbio: Por fora bela viola. Por dentro, pão bolorento.
Um dia, ou aprendo uma canção e canto por dentro e por fora, ou aprendo a fazer pão corretamente.

Enquanto isso, segue a vida, que me segue.


Por favor, escolham! Não ajam como reféns de situações degradantes. 
Não se submetam a circunstâncias que os desvalorizam como pessoa: o ser humano é um Universo. 
Tenham amor, tanto amor próprio. 
Parem de aceitar o que não nutre, o que apenas suga, vampiriza, enfraquece, esvazia. Parem de reclamar das escolhas mal feitas como se não pudessem vivenciar algo grandioso e saudável. 
O outro pode ser e fazer o que bem entender, você não precisa aceitar. Você pode determinar como quer e merece ser tratado. 

Por favor, escolham situações de crescimento, apliquem-se doses cavalares de autoestima. 
Escolham relacionamentos amorosos e maduros. 
Deem-se tempo para escolher bem, mesmo que isto custe algum período de solterice. 
Não caiam na armadilha de estar com alguém por carência, por desespero, por medo, por qualquer coisa que negative uma narrativa que é a sua vida

Por favor, não se maltratem sendo seus piores inimigos e se dando tão pouco como se o outro fosse o responsável por isto. 
É você, apenas você quem pode escolher o que vai adornar tua rotina, fazer sorrir ou chorar teu coração. Não se deixem na mão alheia. 

Decidam! Vão embora do lugar que não os acolhe. Sejam mais carinhosos com vocês mesmos. Deem-se paz, busquem reciprocidade no amor. 

Estamos aqui para evoluir, seja em que aspecto for.


Não faça promessas quando estiver feliz, 
não discuta quando estiver com raiva 
 e não tome decisões quando estiver triste.


“Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.” 

(Mateus 6:3-4)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017


“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é ser governado por aqueles que se interessam.”

__Arnold Toynbee

#proclamação da república

Meu avô sempre dizia que honesto era o seu pai. Para qualquer situação. Quando ouvia as notícias do rádio de manhã na cozinha, no almoço, quando aprontava alguma malandragem e me passava o pito, quando colocava o seu calção e seu chinelo para o entardecer de chimarrão, antes de me dar boa-noite e, de novo, no bom-dia.

Eu confabulava com os meus botões: o que será que ele fez com descomunal excelência e honradez, para ser um exemplo perfeito e recorrente? Chegava a ser chata a evocação, mas não podia menosprezar o amor da sentença, havia uma homenagem a um caráter de exceção, um reverência a um padrão de vida e de clareza. Quisera que os meus filhos pensassem o mesmo de mim no futuro.

- Meu pai é que era honesto. O único homem honesto que conheci.

Já imaginava o seu pai como um super-herói de Guaporé, de sunga por cima do collant, meias coloridas e capa esvoaçante, prendendo assaltantes de banco, ajudando velhinhas a subir no ônibus, desmoralizando os políticos na Câmara de Vereadores, criticando a indolência dos mendigos nos bancos de pedra da praça, devolvendo o troco dos caixas aos aposentados. Sua figura tomou boa parte da memória de minha infância. Pretendia atingir o mesmo grau de retidão, prometi a mim mesmo não mentir mais, com exceção da hora de comer rúcula, que eu detestava.

Ele devia nunca ter atrasado uma conta, nunca ter passado ninguém para trás, nunca ter enganado esposa, nunca ter faltado ao trabalho, nunca ter omitido a sua opinião, aposto que pedia desculpas no exato momento de uma falha e não cedia à tentação da soberba. Pois o antônimo da honestidade não é a mentira, mas o orgulho.

Surpreso fiquei quando o meu avô pediu que eu buscasse correspondência na agência de Correios da esquina e me entregou a sua identidade para a retirada do volume. Constava que ele era filho de Honesto Carpi.

Nunca um documento causou tanto estrago em minha personalidade. Demorei a minha adolescência inteira para desfazer a fantasia.


Você é como o vento que o meu calor alivia 
e traz frescor aos meus dias.


#objetividade

“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.” 

1 Coríntios 1:27