Homem decide e pronto. Não olha para trás. Não faz
repescagem. Pode ter vacilado, mas quando define uma posição assume e
dificilmente entra em parafuso. Homem é prego, não fica girando nos mesmos
temas. Óbvio que se arrepende, mas transforma o erro em silenciosa culpa e
resignação. O orgulho não permite que se transforme em caranguejo. Voltar em
suas considerações tem um preço alto demais para quem foi criado a não pedir
ajuda.
Já a mulher, mesmo quando decide, não termina a dúvida.
Continua com o dilema. Diz sim ou não, porém prolonga o plenário com as amigas.
Sua resposta é provisória e apenas o início de uma longa conscientização.
Acredita que pode pensar com calma, não se prendendo ao tempo. A data de
validade de suas opções é eterna.
A preferência pela comédia romântica, recheada de vaivéns,
desencontros e lacunas amorosas, é a prova de sua alma irresoluta. Não gosta de
histórias fáceis e lineares – prioriza a superação de tabus e preconceitos.
A questão é que ela não encerra qualquer coisa que já foi
discutida, o que enlouquece a ala masculina. Voltará com aquele ciúme explicado
ou aquela cisma esclarecida.
Ela compra uma roupa e demora um mês para tirar a etiqueta
mantendo intacta a possibilidade de troca. Cria uma ronda para ouvir diferentes
contrapontos após o seu ultimato. Por isso nunca tem o rosto tranquilo de um
destino convicto, mas sempre a intensidade febril de quem está optando. Pode
ser uma incerteza de um mês ou de um ano, não apaga jamais o potencial de
escolha. Deixa a porta entreaberta para liminares e mandados de segurança.
A cabeça feminina é um julgamento perpétuo do que deve ser.
Não há o descanso da derrota e a comemoração definitiva da vitória. Está sempre
reabrindo dilemas e cavando encruzilhadas.
Nunca confie que ganhou alguma causa com ela. O balbucio
afirmativo do casamento será posto à prova na convivência, assim como uma
viagem ou uma proposta de trabalho. Não há questões fechadas. Aceita primeiro
para depois pensar melhor com os seus grupos. Coloca a esperança em xeque em
nome do realismo.
Pensamento do homem quando morre é enterrado, tem velório e
missa de sétimo dia. Pensamento da mulher quando morre ressuscita e tira as
pedras do caminho.
Homem é ponto final, mulher é reticência.
Homem diz amém, a mulher diz “pois é”. São religiões
diferentes.