"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 29 de outubro de 2014


Se a vida não der certo, vou me cadastrar no Bolsa Família, ficar na fila da minha casa, minha vida. E de qualquer jeito vou me ajeitar.

Se a vida não der certo, vou armar uma tenda pra prever o futuro. Vou comprar um bilhete de loteria. Inscrever-me no BBB. Concorrer no The Voice e fazer fama no mundo das celebridades.

Se a vida não der certo, vou me juntar aos sem-terra. Dormir na bancada do Congresso Nacional. Obstruir as estradas com os índios Krikatis. Pintar a cara. O muro. Bater panelas na avenida. Gritar no outubro rosa e escrever meu nome nem que seja na cartilha de alfabetização.

Se a vida não der certo vou criar um site de relacionamentos. Escrever piadas. Confessar-me com o Buda e rezar muito para ser perdoada.

E mesmo assim se a vida não der certo, vou concorrer ao Oscar na categoria “grande fraude”. Vou definitivamente a Santiago de Compostela encontrar aquele escritor. Comprar uma escrivaninha e reunir quilos de autoajuda. 

Se a vida insistir em não dar certo, vou aplicar minhas economias na Bolsa. Assistir a final no Maracanã só pra fazer a onda e no final eu juro, farei parte da torcida organizada.
Se a vida não der certo vou encher a cara. Rasgar o verbo. Conversar com Drummond em Copacabana. Sambar na Sapucaí sem desmanchar a progressiva feita no dia anterior. 

Se a vida não der certo eu vou fazer vandalismo e de quebra vou também escrever cartas de amor. Compor uma canção em parceria com Djavan. Psicografar sonhos. Plantar uma árvore. Adotar animais. 

Se a vida não der certo farei silêncio por dois minutos. Darei um pontapé na tristeza. Recitarei Quintana bem devagar. Colocarei uma bonita fantasia de palhaço e esperarei o aplauso final. 

Se a vida não der certo, vou embora para não mais voltar.