"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 21 de setembro de 2017

sem os dentes da frente


Perder um amor é o equivalente a arrancar dentes.

Suspenderá a mastigação da vida. E a dor é igual: de osso, impactante, torturante.

Óbvio que nem todos fins doem. Há os amores dentes de leite da infância, que abrem espaço para dentes melhores. Pertencem à esfera onírica dos primeiros arrebatamentos, idealizados, feitos da recompensa da amizade e das bitocas inocentes e puras.

O equilíbrio começa a ruir pelos amores sisos, os quatro dentes que despontam no auge da adolescência e acavalam o rosto. Representam as paixões proibidas e que enfrentam clara resistência social e familiar.

Todos passam pela natureza clandestina e selvagem desses encontros-conflitos. São dentes escondidos na carne e que desorganizam o desenho da gengiva. São os amores cafajestes, loucos, passionais, que atravancam a carreira, a rotina, a paz, a dentição dos fatos, que competem com os amigos e prazeres. São os amores imprestáveis, provenientes de casos, rolos e aventuras.

Os amores sisos não resistem, não se encaixam em papéis fixos, não perduram nas palavras. Raramente viram relacionamentos estáveis e longevos. Têm uma duração curta e intempestiva. Acabam habitualmente extraídos da forma mais dolorosa possível, sem anestesia.