Perder um amor é o equivalente a arrancar dentes.
Suspenderá a mastigação da vida. E a dor é igual: de osso,
impactante, torturante.
Óbvio que nem todos fins doem. Há os amores dentes de leite
da infância, que abrem espaço para dentes melhores. Pertencem à esfera onírica
dos primeiros arrebatamentos, idealizados, feitos da recompensa da amizade e
das bitocas inocentes e puras.
O equilíbrio começa a ruir pelos amores sisos, os quatro
dentes que despontam no auge da adolescência e acavalam o rosto. Representam as
paixões proibidas e que enfrentam clara resistência social e familiar.
Todos passam pela natureza clandestina e selvagem desses
encontros-conflitos. São dentes escondidos na carne e que desorganizam o
desenho da gengiva. São os amores cafajestes, loucos, passionais, que
atravancam a carreira, a rotina, a paz, a dentição dos fatos, que competem com
os amigos e prazeres. São os amores imprestáveis, provenientes de casos, rolos
e aventuras.
Os amores sisos não resistem, não se encaixam em papéis
fixos, não perduram nas palavras. Raramente viram relacionamentos estáveis e longevos.
Têm uma duração curta e intempestiva. Acabam habitualmente extraídos da forma
mais dolorosa possível, sem anestesia.