Quando ele cozinha, é imagem icônica, quase esfinge.
Algumas vezes, é ele mesmo, em outras não é ninguém.
Seu compromisso nunca é com a nutrição, é o desejo
que o seduz.
Nada acrescenta sem antes envolver no côncavo de suas mãos.
Precisa sentir a textura, a forma, a temperatura.
É um alquimista sensorial. Faz de seu ofício um despertar
de sensações.
Depura, reduz, mistura. Ultrapassa o paladar.
Sua pretensão é provocar espasmos, encantamentos,
fragmentar a respiração, parar o tempo.
Sabe que o segredo é avivar os sentidos. Devolver prazeres
tão esquecidos.
Aplacar a fome é consequência.
Todas elas.
Pertence às pessoas e precisa quase nada além disso.
É bruxo, holístico, e cozinhar é sempre encurtar o
caminho até o outro.
Longe de ser cartesiano, faz do seu ofício sempre uma
presença inefável.
Aprendera faz tempo que vontade de comer se mata fácil, com a
boca.
Mas não satisfaz.
Não a ele.
O negócio dele é satisfazer a fome.
E fome, fome é outra coisa.
É algo bem maior...
Solange Maia