Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na
lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é
imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos
desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma
pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem,
isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa.
Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se
relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a
sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de
estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.
Amor é quando você não compreende direito algumas coisas,
mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de
Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por
exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão
grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo
ao meu lado?
Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois
passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já
nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha
no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo
esse tempo?
Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço
de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do
pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho.
Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que
impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que
seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um
milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido
quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você
acreditava em milagres.
Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande
dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando
a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional
que a gente até esquece que também é amor.