Juntos chegaram à conclusão de que o casamento estava um
tédio, que o amor havia sumido e que a presença um do outro incomodava mais do
que estimulava: nem mesmo a amizade e a ternura haviam sobrevivido. Depois de
algumas cobranças inevitáveis, muita DR e lágrimas à beça, optaram por seguir
cada um para seu lado. Quando? Logo depois das férias de julho: a gente viaja
com as crianças e depois você sai de casa. Perfeito.
Voltaram de viagem mais duros do que nunca foram, o saldo
completamente no vermelho. Não era uma boa hora para comprometer o orçamento
com um novo aluguel. Ela compreendeu e disse para ele ficar em casa até as
finanças se estabilizarem de novo, quando ele então poderia procurar um
apartamentozinho.
O casamento seguia um tédio, mas o clima estava mais ameno,
sabiam que dali a pouco estariam separados para sempre, então calhava uma
harmonização, eles até passaram a sorrir com mais frequência e, olhando assim,
de longe, qualquer um diria que aqueles dois se entendiam bem.
As dívidas da viagem foram pagas e, depois de mais uma entre
tantas discussões bestas, resolveram agendar de vez a separação: logo depois do
aniversário do pequeno Bruninho, que dali a um mês faria 19 anos e media
1m87cm.
Bruninho não quis festa, e o saldo do casal voltou a ficar
positivo, mas não por muito tempo: a tevê já veiculava comerciais com a
presença do Papai Noel. Natal era sempre uma despesa, e os sogros viriam do
interior pra comemorar com a família reunida, melhor deixar passar o Natal e o
Ano-Novo. É melhor, também acho.
Em fevereiro a Bia, filha mais velha, inventou de ir para a
praia do Rosa com as amigas e ficou o mês inteiro lá, assim que ela voltasse os
dois dariam o xeque-mate na relação. Bia voltou e já era quase Páscoa, e Páscoa
sem ir pra fazenda da tia Sonia não era Páscoa. Depois da Páscoa, receberam o
convite para serem padrinhos de casamento de um afilhado, melhor não criar
constrangimento na igreja. Em seguida, foi o aniversário dele, que sempre fica
meio caído nessa data, melhor deixar passar o inferno astral. E quando passou,
aí foi ela que aniversariou.
Estão casados até hoje. Mas do mês que vem não passa.