Ter que ser útil pra alguém é uma coisa muito cansativa. É
interessante você saber fazer as coisas, mas acredito que a utilidade é um
território muito perigoso porque, muitas vezes, a gente acha que o outro gosta
da gente, mas não. Ele está interessado naquilo que a gente faz por ele. E é
por isso que a velhice é esse tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu
significado como pessoa. Eu acho que é um momento que a gente purifica. É o
momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade.
Porque só nos ama, só vai ficar até o fim, aquele que, depois
da nossa utilidade, descobrir o nosso significado. Por isso eu sempre peço a
Deus para poder envelhecer ao lado das pessoas que me amem. Aquelas pessoas que
possam me proporcionar a tranqüilidade de ser inútil, mas ao mesmo tempo, sem
perder o valor.
Quero ter ao meu lado alguém que saiba acolher a minha
inutilidade. Alguém que olhe pra mim assim, que possa saber que eu não servirei
pra muita coisa, mas que continuarei tendo meu valor.
Porque a vida é assim, fique esperto, viu? Se você quiser
saber se o outro te ama de verdade é só identificar se ele seria capaz de
tolerar a sua inutilidade. Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo:
quem nessa vida já pode ficar inútil pra você sem que você sinta o desejo de
jogá-lo fora?
É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor nos
dá condições de cuidar do outro até o fim. Por isso eu digo: feliz aquele que
tem ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir do outro: “você
não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você”.