Alguns homens têm mentido a idade, têm aplicado botox e têm
sonhado em encontrar a alma gêmea. Nunca pensei que a igualdade entre os
gêneros chegasse a esse ponto. Pelo visto, eles também andam procurando
rejuvenescer através da aparência e da paixão.
A juventude anda cada vez mais cobiçada, inclusive por quem
ainda é jovem. Garotas de 20 anos fazem plásticas e já estão injetando silicone
onde podem: até parece que nascemos todos decrépitos.
É bem verdade que começamos a envelhecer no minuto após o
parto, mas alto lá com a pressa. Vamos deixar para nos preocupar com isso
quando tivermos, sei lá, 60, 70. Mais?
Melhor nunca. Preocupação enruga.
Mais vale aceitar que é impossível retardar o envelhecimento.
Não há quem tenha permanecido jovem, nem mesmo Keith Richards. No entanto, ele
se mantém vigoroso, contrariando todas as apostas. Diz ele: “Não estou
envelhecendo, e sim evoluindo”. Eis um sujeito com foco. O guitarrista dos
Rolling Stones diz também (no ótimo documentário Under the Influence,
disponível no Netflix) que só se fica maduro ao ser enterrado. Do lado de fora,
ninguém amadurece.
A mim não pareceu um elogio à infantilização, e sim um elogio
ao movimento. Enquanto respirarmos, seguiremos atentos e vorazes. Vividos, sim,
mas no ponto para a colheita, jamais. A morte sempre nos pegará em processo.
Não podemos ser jovens para sempre, mas podemos ser joviais
para sempre, e me parece suficiente, o resto é tentativa alucinada de parar o
tempo na marra. Nossa pele ficará mais flácida, nossos joelhos irão ranger e
nossos olhos serão trocados por lentes bifocais, mas nem por isso precisamos
vestir e pensar como matusaléns, nem faremos papel ridículo se nos mantivermos
esportivos em vez de clássicos.
Podemos escutar música vibrante em vez de som ambiente,
podemos atualizar nosso vocabulário e nossas ideias, podemos usar a camisa para
fora das calças em vez de blazer com três botões e optar por botinas em vez de
sapato com cadarço. Podemos tomar longos banhos de sol (de biquíni!), praticar
um esporte que não arrebente nossas articulações e afinar o humor, já que sem
humor não existe juventude nem que se tenha nascido depois do ano 2000.
Podemos parar de criticar quem é diferente de nós, podemos
ser menos reacionários, podemos nos manter bem informados sobre o que acontece
no mundo e podemos continuar andando de bicicleta, que é uma coisa que, dizem,
ninguém esquece como se faz. Podemos inclusive continuar praticando aquela
outra coisa que também ninguém esquece como se faz.
Quem foi ao show dos Stones, recebeu uma injeção
muito mais eficiente do que botox e saiu de lá convencido de que ser jovial é
o único procedimento anti-idade com chance de sucesso.