"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 15 de novembro de 2015

o rio que era doce


Morreu o lugar que eu nasci,
Morreu meu cavalo
Meu cachorro e minha história;
O que eu tinha de mais bonito,
Agora, é só memória.
O peixe virou cimento;
E a igreja, e a escola?
Nem sino, nem movimento!
Sobrou nada da plantação!
Nenhum quadro na parede;
Nada prova que sou José,
nada diz que sou João;
Enlameados documentos,
Soterrados com crianças
e gente grande sem esperança;
Acabou-se a minha Bento;
Chorou Elvira, retratando o fato,
que cortou seu coração
Mas choro não limpa o rio,
Nem devolve a vida ao chão...
Correu longe o leito de morte
Uma lama sem distinção,
Cobrindo os sonhos de todos
Matando a paz e a mansidão
E o Rio, que era doce até então,
Hoje, Vale nada não!

(Moema de Castro Leite)