"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 15 de novembro de 2015

homens que investem


Filho é um investimento.

Se essa frase parece ter saído da boca de um esquimó, reconsidere. Não há nada de glacial na afirmação. Filho é, realmente, uma espécie de plano de previdência. Resta saber se você é bom investidor.

Algumas pessoas pensam em ter filhos por razões pragmáticas. A mais comum delas: “quem cuidará de mim no futuro?” Para muitos, o que importa é evitar ser abandonado numa casa de repouso. Só não sei onde essa gente descola bola de cristal para ser assim tão profética.

Filho é um investimento, sim, mas em outro sentido.

Filho é uma aplicação rentável no quesito emoção. Quando bebês, são uns fofos, apesar de exigirem um preparo físico de campeão de UFC. Tudo bem, papai é atlético o suficiente para engatinhar com seu filhote, rolar pelo chão, segurar no colo, levar nos ombros, carregar nas costas. Até que os fofos entram na adolescência.

Tudo bem, também.

Viram uns purgantes, mas pode ser animado. Eles lotarão a casa de amigos, desde clones deles mesmos até aqueles moleques estranhos que tocam guitarra, têm o cabelo vermelho e os olhos idem. Eles explicarão para você que Tóquio é muito mais radical que Paris. Deixarão o quarto bagunçado, mas um dia arrumarão, confie: até o próximo Natal aquele muquifo estará um brinco, e se você disser essa gíria na frente deles – um brinco – pediu: nada lhes dá mais prazer do que debochar do seu vocabulário vintage.

Eles fingirão que não sentem orgulho de você, mas conforme-se, faz parte do sigilo do negócio. Eles se meterão em encrencas, e você vai chamá-los para aquela necessária conversa que sempre começa com gritaria e termina em comoção. Eles ajudarão você a manejar o computador, o smartphone e o Netflix. Eles falarão mal das suas roupas, mas numa noite emergencial pedirão emprestado aquele casaco preto que custou uma fortuna e que você emprestará mesmo assim. Algum sacrifício? Caramba, nenhum, são seus filhos.
E eles virarão adultos, e o investimento será ainda mais recompensador. Eles farão coisas que você nunca teve coragem de fazer – e bem que quis. Eles terão ideias liberais demais até pra você, que sempre se julgou um revolucionário. Eles não compartilharão alguns segredos cabeludos, mas quando o problema for sério mesmo, irá ouvir; “pai, estou precisando de você”. E esta confiança é um lucro impossível de ser medido em cifras.

Hoje é domingo, dia calmo e propício para dar uma analisada nos extratos e avaliar se valeu a pena tanta preocupação, se não foi um preço muito alto ter aberto mão de um pedaço da sua liberdade, se a relação custo benefício compensou.

Ora. Fechando as contas, ninguém pode dizer que não sai dessa aventura mais rico.