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Hoje não só se apaga como se acrescenta pessoas ou se altera suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada.
Hoje não só se apaga como se acrescenta pessoas ou se altera suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada.
A frase “prova fotográfica” foi desmoralizada para sempre,
agora que você pode provar qualquer coisa fotograficamente.
Existe até uma
técnica para retocar a imagem em movimento, e atrizes preocupadas com suas
rugas ou manchas não precisam mais carregar na maquiagem convencional – sua maquiagem
é feita eletronicamente, no ar.
Nossas atrizes rejuvenescem a olhos vistos a
cada nova novela. E quem posa nua para a Playboy ou similar não precisa mais
encolher a barriga ou tentar esconder suas imperfeições.
O “fotoxópi” faz
isso por ela.
O fotoxópi é um revisor da Natureza. Lembro quando não existia
fotoxópi e recorriam à pistola, um borrifador à pressão de tinta, para retocar
as imagens.
Nas Playboys antigas a pistola era usada principalmente para
esconder os pelos pubianos das moças, que desapareciam como se nunca tivessem
estado ali.
Se a prova
fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura
muito menos.
Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luis Borges, que nenhum de nós escreveu – a não ser que o Borges esteja mandando matérias da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba – rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria – ou aceitar os elogios, se for o caso.
Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luis Borges, que nenhum de nós escreveu – a não ser que o Borges esteja mandando matérias da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba – rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria – ou aceitar os elogios, se for o caso.
Agora mesmo está circulando
um texto com a minha assinatura, que não é meu.
Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança.
Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança.
Esse cara sou eu mesmo? E se eu estiver fazendo a
barba e escovando os dentes de um impostor, de um eu apócrifo?
E – meu Deus –
se esta crônica não for minha e sim dele?