"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 17 de outubro de 2015

não é meu


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Hoje não só se apaga como se acrescenta pessoas ou se altera suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada. 

A frase “prova fotográfica” foi desmoralizada para sempre, agora que você pode provar qualquer coisa fotograficamente. 
Existe até uma técnica para retocar a imagem em movimento, e atrizes preocupadas com suas rugas ou manchas não precisam mais carregar na maquiagem convencional – sua maquiagem é feita eletronicamente, no ar. 

Nossas atrizes rejuvenescem a olhos vistos a cada nova novela. E quem posa nua para a Playboy ou similar não precisa mais encolher a barriga ou tentar esconder suas imperfeições.
“fotoxópi faz isso por ela. 
O fotoxópi é um revisor da Natureza. Lembro quando não existia fotoxópi e recorriam à pistola, um borrifador à pressão de tinta, para retocar as imagens. 
Nas Playboys antigas a pistola era usada principalmente para esconder os pelos pubianos das moças, que desapareciam como se nunca tivessem estado ali. 

Se a prova fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura muito menos. 
Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luis Borges, que nenhum de nós escreveu – a não ser que o Borges esteja mandando matérias da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba – rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria – ou aceitar os elogios, se for o caso. 

Agora mesmo está circulando um texto com a minha assinatura, que não é meu. 
Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança. 
Esse cara sou eu mesmo? E se eu estiver fazendo a barba e escovando os dentes de um impostor, de um eu apócrifo? 
E – meu Deus – se esta crônica não for minha e sim dele?