Psiu! Não faça barulho. Ele pode acordar.
Ele vive no escuro, onde a luz não
venceu a escuridão. Mija no breu. Como um animal, ele marca território nas
sombras do meu coração.
Se alimenta de carinho. Rumina afeto.
Regurgita indiferença. Ele saboreia o azedo da bílis com a qual enxágua a boca
e molha seus beijos de adeus.
Quando faz frio, esquenta a pele
áspera com os retalhos dos sonhos que espantou no meio da noite. Acredita no
troco. E goza com a dor fazendo morada, agora, no outro.
Cheira à carniça dos sentimentos que
matou sufocados. E sua o pus daqueles que sentiu prazer em ter machucado.
Ele é o porquê tanto temo minha
verdade. É um monstro. Intrínseco. Congênito. De mim, indissociável.
___João Célio