"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 30 de maio de 2015

quilometragem livre


Mulher que é mulher dá pra quem ela quiser. Aliás, nem perde tempo pensando nesse assunto porque é algo tão natural e simples na sua vida quanto escovar os dentes ou ir ao cinema. Por isso acho bem esquisito essas meninas (independente da idade que tenham continuam meninas) cheias de preocupação, lendo livros e fazendo contas (primeiro encontro, terceiro, décimo segundo?) para descobrir o momento ideal de arriar a calcinha de renda. Saturno e Vênus deverão estar alinhados conspirando para um acontecimento pós-transcendental. Parece que elas são oferendas pra Quetzalcoatl! Acorda, galera, é só sexo! Passional, carnal e intempestivo como deve ser. Deixem as contas pro IBGE, as regras de bom comportamento para os colégios de freira, e vivam. Comprem camisinhas e mandem bala.

Apesar da aparente modernidade, tem muita mulher regulada por aí. E não porque não sintam vontade de liberar, não: esse motivo é respeitável. É porque tem medo do que os outros vão falar, mesmo. Medo do que o cara vai pensar dela, vê se pode. Se uma garota teme o juízo que o cidadão vai fazer dela depois do bundalelê, é um aviso dos céus de que não deve dar pra ele de jeito nenhum—a menos que goste de transar com babacas moralistas. Eu, hein.

Jamais me preocupei com o que o vizinho, o porteiro ou qualquer terceiro pensam de mim: se eles não tem nada mais importante pra fazer do que vigiar a vida alheia, pobre deles. O problema é que nossa sociedade é, feito lençol freático, permeada por um moralismo mais contaminador que dengue e, quando você menos espera, se pega censurando a conduta dos outros igualzinho sua avó. Comportamento herdado, sabe? Pior que isso, comportamento arcaico. Ou patético.

Um namorado meu, há tempos, precisava de um bom advogado (não me lembro mais pra quê). Indiquei um grande amigo meu. Ele foi ao escritório do cara, curtiu a postura profissional dele e acabou fechando negócio. Meses depois, vendo o álbum do meu aniversário de 20 e poucos anos, o cidadão teve um surto porque deparou com uma foto minha dando um beijão no meu amigo, agora, seu advogado.

“Você deu pra ele?!”
“Ué, dei. Na época, claro.”
“E ainda diz que é amigo?! Você fica trepando com tudo quanto é amigo, é? E me faz fechar negócio com um cara que te comeu?!”

Olha, sinceramente, homem que fica encanado com a vida sexual pregressa da namorada precisa tomar surra de frigideira pra parar de ser besta. O mais engraçado é que os machos rodados se acham os Tiger Woods do sexo (acertam o buraco cada vez com mais distinção), mas as mulheres viram roupa comprada em brechó? Ah, faça-me o favor. Dou o que é meu e ninguém tem nada a ver com isso. E, aliás, o número de pessoas que passaram pela minha cama, não te interessa, não altera a BOVESPA, nem a minha personalidade ou valor. Muda, isso sim, a experiência. O que é, ao meu ver, ótimo: ter referencial é algo valiosíssimo nesses dias de propaganda enganosa...

Mas, veja bem: dar pra quem quiser não significa passar o rodo no time de basquete inteiro ou em toda sua turma de amigos, não. Isso é falta de respeito consigo mesma. Porque, como disse Leila Diniz a um babacão que, depois de tomar um sonoro fora, a chamou de vagabunda: “Querido, eu posso dar pra todo mundo, mas não pra qualquer um”.

Isso é que é mulher.