Mulher que é mulher dá pra quem ela quiser. Aliás, nem perde
tempo pensando nesse assunto porque é algo tão natural e simples na sua vida
quanto escovar os dentes ou ir ao cinema. Por isso acho bem esquisito essas
meninas (independente da idade que tenham continuam meninas) cheias de
preocupação, lendo livros e fazendo contas (primeiro encontro, terceiro, décimo
segundo?) para descobrir o momento ideal de arriar a calcinha de renda. Saturno
e Vênus deverão estar alinhados conspirando para um acontecimento
pós-transcendental. Parece que elas são oferendas pra Quetzalcoatl! Acorda,
galera, é só sexo! Passional, carnal e intempestivo como deve ser. Deixem as
contas pro IBGE, as regras de bom comportamento para os colégios de freira, e
vivam. Comprem camisinhas e mandem bala.
Apesar da aparente modernidade, tem muita mulher regulada por
aí. E não porque não sintam vontade de liberar, não: esse motivo é respeitável.
É porque tem medo do que os outros vão falar, mesmo. Medo do que o cara vai
pensar dela, vê se pode. Se uma garota teme o juízo que o cidadão vai fazer
dela depois do bundalelê, é um aviso dos céus de que não deve dar pra ele de
jeito nenhum—a menos que goste de transar com babacas moralistas. Eu, hein.
Jamais me preocupei com o que o vizinho, o porteiro ou
qualquer terceiro pensam de mim: se eles não tem nada mais importante pra fazer
do que vigiar a vida alheia, pobre deles. O problema é que nossa sociedade é,
feito lençol freático, permeada por um moralismo mais contaminador que dengue
e, quando você menos espera, se pega censurando a conduta dos outros igualzinho
sua avó. Comportamento herdado, sabe? Pior que isso, comportamento arcaico. Ou
patético.
Um namorado meu, há tempos, precisava de um bom advogado (não
me lembro mais pra quê). Indiquei um grande amigo meu. Ele foi ao escritório do
cara, curtiu a postura profissional dele e acabou fechando negócio. Meses
depois, vendo o álbum do meu aniversário de 20 e poucos anos, o cidadão teve um
surto porque deparou com uma foto minha dando um beijão no meu amigo, agora,
seu advogado.
“Você deu pra ele?!”
“Ué, dei. Na época, claro.”
“E ainda diz que é amigo?! Você fica trepando com tudo quanto
é amigo, é? E me faz fechar negócio com um cara que te comeu?!”
Olha, sinceramente, homem que fica encanado com a vida sexual
pregressa da namorada precisa tomar surra de frigideira pra parar de ser besta.
O mais engraçado é que os machos rodados se acham os Tiger Woods do sexo
(acertam o buraco cada vez com mais distinção), mas as mulheres viram roupa
comprada em brechó? Ah, faça-me o favor. Dou o que é meu e ninguém tem nada a
ver com isso. E, aliás, o número de pessoas que passaram pela minha cama, não te interessa, não altera a BOVESPA, nem a minha personalidade ou
valor. Muda, isso sim, a experiência. O que é, ao meu ver, ótimo: ter
referencial é algo valiosíssimo nesses dias de propaganda enganosa...
Mas, veja bem: dar pra quem quiser não significa passar o
rodo no time de basquete inteiro ou em toda sua turma de amigos, não. Isso é
falta de respeito consigo mesma. Porque, como disse Leila Diniz a um babacão
que, depois de tomar um sonoro fora, a chamou de vagabunda: “Querido, eu posso
dar pra todo mundo, mas não pra qualquer um”.
Isso é que é mulher.