É preciso amar as pessoas como se não
houvesse despertador na segunda-feira, ônibus lotado, agenda de obrigações
rançosas, saldo negativo no banco, cartão de crédito sem limite, fila no banco,
dor de cólica.
É preciso amar as pessoas como se não
houvesse estacionamento lotado no shopping, lojas sem promoção, aniversário sem
presente, atendimento precário na praça de alimentação.
É preciso amar as pessoas como se não
houvesse politicagem, sacanagem, fuleragem.
É preciso amar as pessoas, inclusive vizinhos
que usam som na maior altura. É preciso amar mesmo que ela não goste de
MPB.
É preciso amar as pessoas carrancudas,
estressadas, tristes, solitárias, imaturas.
É preciso amar as pessoas de perto, de longe,
de mais longe ainda. É preciso amar sem criticar, desconfiar, analisar,
reclamar.
Embora alguns neguem, é preciso amar as
pessoas, mesmo sem ser convidado para jantar, sem conseguir ingresso para a
final no Maracanã, sem ir ao show de Djavan.
É preciso amar as pessoas, mesmo renunciando
ao cargo mais cobiçado, vendo gente maltratando animais, assistindo ao
preconceito de perto e ter a liberdade limitada.
É preciso amar as pessoas mesmo convivendo
com todo tipo de violência.
É preciso amar as pessoas, mas antes é
preciso ser anjo ou santo.