Homens e mulheres têm viajado pra lá e pra cá e, mesmo quando
em casa ou no trabalho, não param de se comunicar com nativos de outras cidades
através das redes sociais. Logo, é natural o incremento de parcerias amorosas
entre pessoas que residem a quilômetros umas das outras.
Ela, pode morar em São Paulo, e ele, no Rio. Considerando o
tamanho do planeta, praticamente vivem a uma esquina de distância.
No entanto, as coisas vão além desse pequeno inconveniente
geográfico.
O que vemos, atualmente, é o retrato da fragilidade das
relações numa era em que todos estão ocupados demais para se entregar a alguém.
Os casais fazem mil coisas ao mesmo tempo, atuam em todos os
canais e mídias possíveis, querem engolir o mundo, mas morrem de medo de ser
engolidos por ele.
Afinal, com tantas solicitações, compromissos, projetos e
alternativas, sobrará tempo para se dedicar a um envolvimento profundo?
Não sei se esta é uma questão só dos jovens. Hoje, entre os
avulsos de todas as idades, existe o mesmo pé atrás. Os solteiros que nunca
foram casados antipatizam com a ideia de se amarrar sem antes fazer um test
drive em todas as outras opções possíveis — o que levaria umas três vidas, por
baixo. E os solteiros que já passaram por uma ou duas uniões estáveis e já
viveram seu “eterno enquanto dure” não morrem de amor pela ideia de ter que
voltar a prestar contas, negociar, conceder, programar, comprometer-se.
Virou exagero se doar. A ordem agora é se emprestar. Toma aí
um pouquinho de mim, mas me devolve.
Resultado? Um sem-número de relacionamentos a distância,
mesmo o casal sendo vizinho de bairro. Os dois sentados à mesma mesa, mas cada
um teclando seu smartphone. Os dois saindo de férias, mas cada um para um
destino diferente. Os dois com problemas, mas sem disposição para conversar a
respeito. Os dois com muitos planos, mas sem nenhuma intenção de abrir mão do
seu sonho em função do sonho do outro. Os dois com dúvidas, mas sem reparti-las
para não ter que se explicar muito. Os dois juntos, mas não por inteiro, que
nada mais é inteiro, tudo é fragmentado.
É uma contingência dos novos tempos, reconheço, mas não
impede que a relação evolua. Que o namorico, a ficada, o rolo, o lance, o caso,
a pegação se transforme em amor. E amor a gente não empresta, entrega de
bandeja. É quando a distância deixa de existir. Mesmo um lá e o outro acolá,
ela será suprimida por algo que verdadeiramente unifica: vínculo.