Nunca fui fã ardorosa do Brasil. Suas lindas praias, sua música, sua irreverência, nada disso jamais foi suficiente para superar meu desgosto profundo por ter gente morrendo em corredor de hospital, por professores ganharem uma merreca de salário, por não podermos andar com segurança pelas ruas e demais indignidades com que convivemos dia sim, outro também.
Desde que passei a ter o mínimo de consciência política, entendi que ética não era o nosso forte. Quando o PT apareceu, simpatizei, mas não cheguei a acreditar em salvadores da pátria porque a minha descrença estava bem sedimentada. Ainda assim, dei meu voto lá no início, era uma possibilidade. Que se cumpriu até certo ponto, mas o partido se revelou vulnerável como qualquer outro e o resto da história está aí. A roubalheira, que sempre existiu, tomou conta da maior empresa estatal do país e o vexame ganhou proporções monumentais.
O quadro geral é de tristeza. Porém, o que tenho visto é uma alegria
perversa entre os caçadores de bruxas. Parece que as pessoas estão salivando
diante dos escândalos, satisfeitas por poderem satanizar à vontade os
dirigentes do país. Não acho que corruptos mereçam absolvição, estamos sob o
comando de maus gestores e péssimos exemplos de cidadania, e torço pela punição
de todos aqueles que saquearam o Brasil. Estarei nas ruas no dia 15 de março
porque acredito que o povo precisa se expressar, mostrar que está vigilante,
mas a raiva contida em muitas declarações contra os petistas não me representa.
Uma coisa é se manifestar – inclusive com humor – a fim de pressionar
pelo fim da impunidade. Demonstra amadurecimento da população. Mas, no momento
em que chamamos a presidente de vaca, fazemos brincadeiras sórdidas alusivas ao
rosto de Cerveró ou culpamos o PT pelo espirro do cachorro do vizinho, trocamos
a maturidade da nossa indignação por um bullying coletivo que mais revela nossa
pobreza de espírito do que grandeza como nação.
Faço parte da elite e me sinto à vontade para fazer uma autocrítica:
sim, os elitistas talvez estejam, consciente ou inconscientemente, vingando-se
de uma suposta perda que imaginaram que teriam com a ascensão de um partido
popular ao poder. No fundo, torceram para que desse errado e, agora que o
castelo de cartas ruiu de fato, há uma comemoração evidente. Uma desforra. Um
clima de final de campeonato, como se o gol da vitória tivesse finalmente sido
marcado.
No entanto, só vejo perdedores nesse jogo. Uma grande nação de
perdedores. Nada de engraçado está acontecendo. A única vitória possível se
confirmará caso, num futuro próximo, a impunidade já não for dada como favas
contadas e uma nova classe política nascer dos escombros e reinventar o país.
E se a ética vier a ser o nosso forte, em todas as camadas da sociedade.